Paris - O Senado da França aprovou nesta sexta-feira (22/10) a reforma previdenciária que vem causando, desde o início do semestre, um enorme movimento de contestação, uma expressiva escassez de combustíveis e a maior crise do mandato do presidente Nicolas Sarkozy.
O governo conta com o feriado prolongado de Todos os Santos, que começa na próxima sexta-feira à noite, para enfraquecer a mobilização, enquanto os sindicatos convocaram mais dois novos dias de ações nacionais.
Já aprovado pela Assembleia Nacional, o projeto de lei passou pelos senadores (177 votos a favor e 153 contra). A aprovação definitiva do texto deve ocorrer na próxima quarta-feira, informou à AFP o ministro das Relações com o Parlamento, Henri de Raincourt. O presidente francês deve anunciar uma modificação no gabinete logo após.
"Um dia nossos adversários vão reconhecer", declarou antes da votação o ministro do Trabalho Eric Woerth.
"Vocês não acabaram com os aposentados. Vocês ignoraram o que os franceses expressaram, não ouviram nenhuma de suas propostas, a reforma de vocês é injusta", advertiu anteriormente o líder do PS no Senado, Jean-Pierre Bel.
A reforma vai aumentar a idade mínima de aposentadoria de 60 para 62 anos e a idade para a integral de 65 para 67 anos.
Segundo o governo, essas medidas são indispensáveis para a preservação do sistema previdenciário, no qual as pensões são financiadas pelos trabalhadores na ativa, em meio ao aumento da expectativa de vida. As necessidades de financiamento do sistema sem uma reforma seriam de quase 44 bilhões de euros até 2018, segundo especialistas.
No nível mais baixo das pesquisas, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, fez desta reforma impopular a medida mais importante de final de mandato, a 18 meses das eleições presidenciais, e símbolo da determinação de mudar a França. Mas ele vive também a maior crise desde a eleição em 2007.
Desde o início do semestre, os sindicatos e jovens mantêm a pressão do movimento desde o início de setembro e níveis de mobilização recordes.
Eles convocaram dois novos dias de protestos para 28 de outubro e 6 de novembro, apoiados por dois em cada três franceses (69%), segunda uma pesquisa BVA. Desde a última terça-feira, jovens e estudantes se manifestam por todo o país, sob a liderança da União Nacional de Estudantes da França (UNEF), apesar das férias escolares.
As convocações de greves prosseguem principalmente nos setores estratégicos da energia, com 12 refinarias da França paralisadas e depósitos de petróleo bloqueados, provocando escassez de combustíveis em postos de gasolina e uma desaceleração das atividades de alguns setores da economia.
O ministro da Ecologia e da Energia Jean-Louis Borloo indicou nesta sexta-feira que "entre 20% e 21%" dos 12,3 mil postos de gasolina estavam ainda secos. E a volta à normalidade no abastecimento "poderá levar dias", disse ele, sem dar previsões.
Borloo afirmou que as medidas de racionamento de gasolina não eram esperadas por enquanto. Mas duas prefeituras do noroeste do país estabeleceram limites para o abastecimento de combustível.
Por causa de todas essas greves, "milhares de pequenas e médias empresas começam a desacelerar" ou ainda a "parar suas atividades", o que ameaça as "mais frágeis" de falência, preocupa-se a organização patronal CGPME.
Para evitar uma paralisação na capital, o governo enviou gendarmes na manhã desta sexta-feira para desbloquear a refinaria de Grandpuits, principal fonte de alimentação de combustível da região parisiense.
Nessa quinta-feira, Nicolas Sarkozy havia acusado os grevistas de fazer a economia de refém, assim como as empresas e a vida cotidiana dos franceses. O líder do sindicato CFDT, François Chér;que, respondeu evocando "um forte sentimento de injustiça em relação a esta reforma e a outras medidas".