postado em 23/10/2010 08:10
Dez dias após o resgate, os mineiros chilenos enfrentam os efeitos psicológicos dos mais de dois meses que passaram no fundo da mina San José, no Deserto do Atacama, e dificuldades para retomar a rotina. Vítima de uma crise de angústia, Edison Peña, um dos 33 trabalhadores que passaram 69 dias debaixo da terra, teve que ser internado. Médicos que vêm acompanhando os mineiros relatam que pelo menos cinco deles estariam cometendo excessos no consumo de bebida alcoólica.;Ele (Peña) apresentava um quadro de angústia severa e consideramos necessário sedá-lo. Os motivos estão sendo analisados;, comentou Jorge Díaz, médico da Associação chilena de Segurança, onde a maioria dos mineiros está sendo atentado, de acordo com reportagem do jornal La Tercera. Solteiro e sem filhos, Peña, 34 anos, foi o primeiro mineiro a voltar ao hospital.
Ontem, ele recebeu alta e, segundo a imprensa chilena, viajou para Santiago, onde será recebido na segunda-feira pelo presidente Sebastián Piñera com os colegas. Segundo Díaz, Peña apresentava os primeiros sintomas de um quadro de estresse pós-traumático e deve continuar o tratamento com psicólogos na capital. Ontem, outros cinco mineiros deram entrada na clínica da associação para serem tratados por psicólogos.
Sem descanso
Logo após o resgate, os 33 trabalhadores passaram 48 horas internados. Após esse período de observação, 31 receberam alta por suas boas condições físicas. Permaneceram hospitalizados por mais tempo Mário Sepúlveda e Víctor Zamora, 33 anos, que teve uma lesão traumática nos dentes superiores e pediu para permanecer na Clínica Atacama. Ao deixarem a clínica, todos receberam a recomendação de descansar por pelo menos 15 dias, o que muitos não conseguiram fazer em razão das várias celebrações e do assédio da imprensa.
Chamado de atleta por seu costume de correr 10 quilômetros diários nas galerias da mina, Peña demonstrara fragilidade quando fez um pequeno discurso em uma festa em homenagem aos resgatados realizada na terça-feira passada. Também ficou abalado ao participar de programa de televisão transmitido ao vivo na sexta-feira da semana passada, 72 horas após o término da operação resgate. Colegas de Peña aparentemente exageraram no consumo de álcool durante as celebrações.
Na festa da última terça-feira, oferecida pelo empresário Leonardo Farkas, um excêntrico milionário do setor da mineração, os mineiros receberam vários presentes. Cada um ganhou, entre outros itens, uma motocicleta e um imóvel, no caso dos trabalhadores que não possuíam casa própria.
No período em que permaneceram soterrados, os trabalhadores tentaram manter uma rotina próxima do normal. Mantiveram, por exemplo, turnos de trabalho de oito horas. O sistema foi adotado depois de 22 de agosto, quando foram contatados pela primeira vez. Naquele momento, já estavam 17 dias sob a terra, sem que ninguém soubesse se estavam vivos ou mortos.
A partir daí, sondas chegaram para abastecer o grupo, que até então se alimentava com duas colheradas de atum em lata e meio copo d;água a cada dois dias. Os mineiros também começaram a fazer uma hora de exercícios físicos por dia, incluindo corridas na galeria de 1,5km onde se refugiaram depois do acidente que bloqueou a entrada da mina.