Agência France-Presse
postado em 23/10/2010 10:12
Londres - O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, afirmou neste sábado em Londres que os 400 mil documentos secretos das forças americanas divulgados por seu site mostram a "verdade" sobre a guerra do Iraque.
"Esta divulgação é sobre a verdade", disse Assange, que também é redator-chefe da página especializada em vazar documentos de inteligência, em uma coletiva de imprensa realizada em um hotel de Londres.
[SAIBAMAIS]"O ataque à verdade sobre a guerra começa muito antes de seu início e continua muito tempo depois de seu fim", acrescentou.
"Esperamos corrigir parte deste ataque à verdade que ocorreu antes da guerra, durante a guerra e que continuou desde que a mesma terminou oficialmente", disse o australiano nascido em 1971.
Assange, que compareceu à coletiva acompanhado de outros quatro responsáveis pelo site, afirmou que a avaliação dos informes reunidos pelo Exército americano permitia ter "um levantamento detalhado de cerca de 109 mil mortos, entre eles 66 mil civis".
Outro responsável pelo WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, anunciou, por sua vez, a próxima divulgação de 15 mil novos documentos militares secretos dos Estados Unidos sobre a guerra do Afeganistão, prometidos no último verão (boreal).
"O WikiLeaks utilizou apenas um de cada seis informes relativos ao Afeganistão (...) Os documentos virão à tona logo", declarou Hrafnsson.
O site já havia divulgado em julho os primeiros 77 mil documentos sobre a guerra do Afeganistão.
Estes informes, que revelavam detalhes sobre vítimas civis e supostos vínculos entre o Paquistão e os insurgentes talibãs, provocaram uma tempestade midiática e enfureceram os Estados Unidos.
Apesar dos protestos dos EUA e da Otan, o WikiLeaks divulgou nesta sexta-feira à noite cerca de 400 mil documentos secretos do Exército americano, desta vez sobre a guerra do Iraque, que revelam que a coalizão internacional torturou presos e fez vista grossa ante abusos das forças iraquianas.
Segundo o WikiLeaks, esta divulgação constitui "o vazamento maior vazamento da história do Exército americano".
Os documentos militares secretos em posse do WikiLeaks contemplam o período de 1 de janeiro de 2004 a 31 de dezembro de 2009.
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, condenou "nos termos mais claros" o vazamento de documentos que "coloquem em perigo a vida de americanos ou de seus aliados", ainda que não tenha entrado em detalhes sobre as revelações.
Mais de 50 mil soldados americanos ainda se encontram no Iraque após o fim da missão de combate das tropas dos Estados Unidos, no fim do mês de agosto.
Na primeira declaração oficial após a publicação dos documentos, o ministério iraquiano de Direitos Humanos indicou que as publicações "não contêm surpresas".
"Os documentos não foram uma surpresa para nós, porque já havíamos mencionado vários dos fatos citados (nesses documentos), incluindo o que ocorreu na prisão de Abu Ghraib, assim como em outros casos nos quais as forças americanas estão envolvidas", declarou à AFP o porta-voz do ministério de Direitos Humanos do Iraque, Kamel al Amim.
Também afirmou que o número de 109 mil vítimas da guerra entre 2003 e 2009 "aproxima-se do que foi anunciado pelo ministério da Saúde iraquiano".
O porta-voz citou diversos exemplos conhecidos do envolvimento das forças americanas ou da ex-companhia de segurança privada dos EUA Blackwater nas mortes de civis.