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Dois meses após Calderón declarar guerra, cartéis espalham terror no México

postado em 25/10/2010 08:41
A rotina da mexicana Zunilda Aldama, 30 anos, tem seguido o compasso da insegurança. Todos os dias essa moradora da cidade de San Fernando, no departamento de Tamaulipas, sai do trabalho e vai direto para casa. Sempre com medo. Há tempos ela não sabe o que é o lazer. Na última semana, escutou três tiroteios. ;Na terça-feira, atiraram contra viaturas do Exército perto de casa. Três dias depois, por volta das 8h, queimaram uma concessionária de veículos novos;, relata ao Correio a contadora, por meio da internet. ;Há muita violência e está bastante difícil permanecer aqui;, reclama. Zunilda vive perto do rancho onde 72 imigrantes ilegais ; entre eles cinco brasileiros ; foram fuzilados por supostos integrantes do cartel Los Zetas.

A 1,4 mil quilômetros dali, Ciudad Juárez, no departamento de Chihuahua, é uma das localidades mais perigosas do planeta. A também contadora Elva Ávalos Sifuentes, 48 anos, só deixa sua casa para realizar tarefas indispensáveis. ;Se preciso sair à noite, sempre vou acompanhada. Procuro observar se carros suspeitos me seguem e evito ficar fora depois das 19h;, conta à reportagem, por meio da internet. Na quinta-feira passada, o barulho de tiros a incomodou. ;O medo é latente a cada minuto, mas é preciso aprender a sobreviver nesse meio;, admite Elva. Ela prega a necessidade de um trabalho conjunto entre a sociedade e o governo. ;Precisamos de uma restruturação completa do poder público, para que combata de modo mais eficaz a corrupção;, destaca.

Um dos seis corpos encontrados com as mãos e os pés amarrados na periferia de Acapulco, na sexta-feira: executados por Depois que o presidente Felipe Calderón declarou ;guerra total; aos narcotraficantes, em 26 de agosto passado, o crime organizado enviou uma mensagem sinistra e desafiadora ao governo, na forma de corpos decapitados. Os sicários já assassinaram 12 prefeitos apenas neste ano ; seis deles nos últimos dois meses. Também em Tamaulipas, muitos dos governantes municipais não suportaram a ameaça e, respaldados pela Secretaria Geral de Governo da Justiça (SGGJ), decidiram atravessar a fronteira e mudar-se para os Estados Unidos. ;É horrível. Não existe autoridade para esses criminosos, que não têm consciência nem limites. Para eles, matar um inimigo, um cidadão, crianças, prefeitos, presidentes e governadores é a mesma coisa;, desabafa Zunilda.[SAIBAMAIS]

Na opinião de Javier Oliva Posada, coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidad Nacional de México (Unam), a perda de terreno do Estado é um fenômeno real, agravado pela falta de vontade da sociedade em apoiar o combate à delinquência. ;Muitos setores veem no narcotráfico uma via para sair do assédio da pobreza. A impunidade e a venda de proteção representam uma das novas expressões, que, pouco a pouco, vão se ampliando na rede de atividades ilícitas;, admite o especialista. A sensação de insegurança é potencializada pela incapacidade das autoridades de lidar com o problema. ;A debilidade estrutural das polícias municipais, estaduais e federais não lhes permite estar nos locais dos fatos. Diante disso, os cidadãos começam a apelar para formas de autodefesa, que incluem desde vizinhos armados até a presença de seguranças particulares;, comenta Posada. Ele acredita que, mais recentemente, ficou escancarada a fragilidade da administração pública para enfrentar a criminalidade.

Disputas
Posada atribui a intensificação da violência às crescentes disputas pela venda, produção e distribuição de drogas. ;Mais que uma mudança nas atitudes e métodos dos grupos criminosos, o que existe é uma maior disponibilidade de armamentos, manejo de mais dinheiro e corrupção por parte de autoridades locais;, alerta o especialista. Segundo o analista da Unam, o México enfrenta o período de maior inquietação em sua história. ;O principal motor que causa a violência é o insaciável mercado dos Estados Unidos, que, ano após ano, faz crescer a demanda por mais drogas da América Latina;, observa. Na última terça-feira, a Polícia Federal do México e o Exército apreenderam 105t de maconha próximo à cidade de Tijuana, na Baja California, no extremo noroeste.

Para Vincente Sánchez Munguia, professor do Departamento de Estudos da Administração Pública (em Tijuana), a decapitação das vítimas é um fenômeno que se estendeu à guerra interna dos cartéis de Los Zetas, do Golfo e da Família Michoacana. ;Trata-se de enviar mensagens de terror aos inimigos de outras organizações e aos policiais;, explica. ;Não creio que haja mudanças no método de ação dos narcotraficantes, mas parece-me que as coisas marcham rumo a um maior endurecimento das operações militares, com uma maior cooperação do governo norte-americano. Os EUA temem que faccões criminosas do México se infiltrem nos governos da América Central e provoquem violência em seu próprio território;, observa Munguia.

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