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Ultradireita ganha apoio democrata nos Estados Unidos

Em luta desesperada para salvar a maioria no Congresso, governistas ajudam independentes que possam roubar votos dos republicanos

postado em 28/10/2010 09:06
Getty Images/AFPA menos de uma semana das eleições legislativas nos Estados Unidos, não há mais como o Partido Democrata esconder aquela que é talvez sua estratégia mais desesperada para tentar manter a maioria na Câmara dos Deputados no biênio 2011-2012, decisivo para os planos de reeleição do presidente Barack Obama. Em pelo menos 12 apertadas disputas pelo país, os governistas têm atuado nos bastidores para alavancar candidatos ultraconservadores ;nanicos;, e com isso tirar votos da oposição republicanos. A tática, no entanto, poderá ser um tiro no próprio pé: em algumas disputas importantes, como a de Nevada, o líder democrata no Senado, Harry Reid, corre sério risco de perder para uma desafiante da direita republicana.

A ação democrata inclui malas-diretas, anúncios de televisão e até gravações por telefone em que os programas dos ;terceiros candidatos; são apresentados como os que mais se aproximam às propostas do Tea Party, a ala mais conservadora da oposição. Segundo o site Politico, o Comitê Democrata de Campanha ao Congresso (DCCC, em inglês) e dois diretórios estaduais pagaram para enviar cartas a famílias registradas como republicanas em pelo menos cinco distritos eleitorais de Michigan, Colorado, Flórida e Texas.

Em uma correspondência que chegou aos moradores do 23; distrito eleitoral, no Texas, o deputado democrata Ciro Rodriguez, candidato à reeleição, e seu oponente republicano Francisco Canseco são colocados lado a lado com o quase desconhecido Craig Stephens. Na descrição das propostas do candidato independente, é possível perceber a intenção de aproximá-lo do Tea Party: ;Stephens vai lutar para cortar drasticamente os gastos no governo, tratar com seriedade a segurança das fronteiras e acabar com a imigração ilegal;. No Distrito 45, na Califórnia, a campanha do democrata Steve Pougnet pagou por telefonemas promovendo o independente Bill Lussenheide como o ;real candidato; dos ultraconservadores.

Na Pensilvânia, o deputado Bryan Lentz, outro governista que tenta a reeleição, conta com o independente Jim Schneller na disputa contra o republicano Patrick Meehan. ;Se alguém já tomou a decisão de concorrer, não acho impróprio ;ajudar; com o processo de assinar petições;, defendeu-se Lentz. O porta-voz do DCCC, Ryan Rudominer, no entanto, negou que haja uma estratégia definida, e afirmou que o partido está apenas comprometido com identificar os candidatos que estão fora do mainstream. O Comitê Nacional Republicano contesta. ;Os democratas perceberam que não vão ganhar pelos próprios méritos, então passaram a recorrer a táticas inescrupulosas e desesperadas, como enganar e mentir;, disse a porta-voz Joanna Burgos.

Tiro pela culatra
Segundo o cientista político William Allen, da Universidade Estadual de Michigan, a estratégia velada dos democratas teve início na disputa em Nevada. Para tentar facilitar a reeleição de Reid ao Senado, os governistas teriam ajudado a representante do Tea Party Sharron Angle a vencer a ex-senadora Sue Lowden nas primárias republicanas. ;A meta foi confundir o público em geral ; o chamado ;dividir para conquistar; ; e assim tentar recuperar a vitória. No entanto, o fato de Angle ainda liderar as pesquisas frente ao senador Reid sugere fortemente que a tática pode falhar;, destaca Allen.

O pequisador do Alabama John Anzalone explica que não é a primeira vez que políticos americanos tentam manipular os votos do outro lado. ;O objetivo é, claramente, levar os republicanos a votar nos independentes que se assemelham ao Tea Party, para enfraquecer da oposição;, afirma. ;Os democratas tentam tirar proveito do fato de o Tea Party não ser um partido político com possibilidade de designar seus representantes, mas apenas um movimento;, observa Allen.

Complô desmontado
Um paquistanês naturalizado americano foi detido ontem em um hotel na Virgínia e acusado de estar planejando atentados contra o metrô de Washington. Farooque Ahmed, 34 anos, vinha sendo monitorado pelo FBI (polícia federal americana) havia pelo menos seis meses, mas, segundo o Departamento de Justiça, a população não esteve em risco, já que o suspeito foi preso antes que a ameaça se tornasse iminente. Ahmed chegou a se encontrar com agentes ; que se fizeram passar por militantes ligados à Al-Qaeda ; para preparar ataques simultâneos com bombas.

;Farooque Ahmed é acusado de arquitetar, com indivíduos que acreditava ser terroristas, um plano para explodir nosso sistema de transporte, mas um esforço coordenado entre as forças de segurança e da inteligência foi capaz de frustrar seus planos;, disse David Kris, procurador-geral adjunto para Segurança Nacional. O paquistanês foi flagrado fotografando estações de metrô na capital em abril passado. Em maio, já em contato com os agentes disfarçados, aceitou mapear as medidas de segurança de um hotel em Washington e de uma estação ferroviária em Arlington (Virgínia).

Um comunicado do Departamento de Justiça enfatizou que ;a população em nenhum momento esteve em risco durante a investigação; e que ;o FBI monitorava de perto as atividades (do suspeito) até a prisão;. Ontem, Ahmed já compareceu a um tribunal federal em Alexandria, na Virgínia, e terá um advogado apontado pela corte. Ele permanecerá em custódia até amanhã, quando será levado a uma audiência judicial. Se for considerado culpado, poderá ser condenado a até 50 anos de prisão.

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