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Milhares de argentinos acompanham Cristina Kirchner no adeus a Néstor

Agência France-Presse
postado em 28/10/2010 13:55

Vestida de preto e usando óculos escuros, a presidente argentina agradeceu as condolências daqueles que passavam em fila para o último adeus

Buenos Aires - Carregando velas, bandeiras e flores, em meio a muita comoção e angústia, milhares de argentinos foram à Casa Rosada nesta quinta-feira (28/10) para se despedir do ex-presidente e líder peronista Néstor Kirchner, falecido aos 60 anos, demonstrando apoio à viúva, a presidente Cristina Kirchner, que chegou ao velório acompanhada dos filhos.

Cristina ainda não havia sido vista em público desde quarta-feira, quando Néstor faleceu vítima de um ataque cardíaco na cidade de El Calafate. Vestida de preto e usando óculos escuros, a presidente argentina permaneceu junto ao féretro com a mão sobre a tampa, agradecendo às condolências daqueles que passavam em fila para o último adeus ao morto.

Ao lado, os filhos Máximo, de 32 anos, e Florencia, 19. A irmã de Kirchner, Alicia, atual ministra do Desenvolvimento Social, e o chefe de Gabinete Aníbal Fernández, também permanece próximo ao caixão.

Néstor e Cristina se conheceram nos anos 70, quando cursavam a faculdade de Direito e militavam na ala esquerdista do peronismo na Universidade de La Plata.

O público poderá se despedir de Néstor Kirchner, que governou o país entre 2003 e 2007, no Salão dos Patriotas Latino-Americanos. Nas paredes em torno do caixão, imagens dos ex-presidentes Juan Perón, da Argentina, Salvador Allende, do Chile, e Getulio Vargas, além do guerrilheiro Ernesto ;Che; Guevara, entre outros.

O corpo do ex-presidente chegou a Buenos Aires de madrugada. Depois do velório, será novamente transportado para o sul da Argentina, para a província de Santa Cruz, na Patagônia, onde Kirchner nasceu.

Os presidentes dos países membros da Unasul, da qual Kirchner era secretário-geral, começaram a chegar a Buenos Aires na manhã desta quinta-feira para prestar as últimas homenagens.

Evo Morales, da Bolívia, Rafael Correa, do Equador, José Mujica, do Uruguai, e Sebastián Piñera, do Chile, foram os primeiros a participar das exéquias. Além de Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes Fernando Lugo (Paraguai), Hugo Chávez (Venezuela) e Juan Manuel Santos (Colômbia) também são esperados.

[SAIBAMAIS]Guardada por um forte esquema de segurança, a Plaza de Mayo, em frente à Casa Rosada, amanheceu coberta por flores e mensagens. "Força, Cristina" são os dizeres de centenas de cartazes de apoio à presidente.

"Néstor Kirchner dedicou uma vida inteira ao serviço público", disse Piñera, acrescentando que Cristina Kirchner terá "a força necessária para seguir liderando o destino da Argentina".

"Foi uma perda para toda a América porque, como secretário-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) defendia o compromisso do continente de proteger a democracia e os direitos humanos, com zelo e eficácia", destacou o presidente chileno.

"Queremos dizer ao povo argentino que estamos solidários neste momento", afirmou Mujica ao chegar.

"Sinto que a perda é insubstituível. Estamos aqui para expressar nossa solidariedade e esperamos, neste momento difícil, confortar a família e o povo argentino", indicou Morales. "Sua ajuda e suas sugestões foram muito importantes quando comecei como presidente. Esta perda me deixa órfão", lamentou.

Centenas de jovens militantes permaneceram toda a noite na Plaza de Mayo, em frente à sede do governo, e já de madrugada começaram a formar uma fila para garantir a entrada no velório do "Pingüino", como era conhecido o ex-presidente, que começou às 11h de Brasília na Casa Rosada.

"Força, presidente. Precisamos de você mais do que nunca. Estamos com você", afirmavam cartas deixadas na noite de quarta-feira por milhares de argentinos, que em meio a muita comoção foram prestar as condolências na capital federal.

Enrolada em uma bandeira da Argentina, a vereadora Graciela Benítez passou 19 horas à frente da fila que dava a volta na Casa de Governo, para ser a primeira a se despedir do ex-presidente

"Cheguei ontem às 15h10 ao lado de um grupo de militantes da Frente para a Vitória", a coalizão que levou Néstor Kirchner ao poder em 2003, disse a vereadora do município de Moreno, na província de Buenos Aires. "Tenho muita dor, mas também tenho esperança porque estou convencida que o poder está com a presidente Cristina Fernández de Kirchner, porque Cristina e Néstor são uma só coisa", completou.

Em 2010, Néstor Kirchner já havia passado por duas intervenções cirúrgicas devido ao agravamento de seus problemas cardíacos. Na noite de quarta-feira, durante uma reunião em casa com a mulher e amigos, não resistiu a uma parada cardiorrespiratória e morreu sem que os médicos tivessem tempo para ressuscitá-lo.

A central sindical CGT, principal braço de apoio do governo, convocou uma mobilização nesta quinta-feira na Plaza de Mayo para uma despedida final.

"Depois de (Juan) Perón e Eva (Duarte de Perón), vem Néstor Kirchher, sem sombra de dúvida", disse Hugo Moyano, poderoso líder da CGT, declarando apoio a Cristina Kirchner.

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