postado em 01/11/2010 08:50
Em um derradeiro esforço para tentar manter o maior número de democratas no Congresso para a segunda metade do seu mandato, o presidente Barack Obama percorreu, neste fim de semana, mais quatro estados em busca de voto. Em três deles ; Ohio, Illinois e Pensilvânia ;, o cenário pré-eleições, que prevê perdas de assentos na Câmara, no Senado e de postos de governador, resume os riscos que os democratas correm em todo o país. Mesmo as estimativas mais otimistas para o partido de Obama mostram que os governistas deverão perder a maioria das cadeiras na Câmara no pleito de terça-feira, e que sua predominância no Senado corre o risco de diminuir a uma margem inexpressiva. Agora, restam aos democratas apenas dois dias para convencer um eleitorado insatisfeito a comparecer às urnas ; e tentar deixar os caminhos abertos para a reeleição à Casa Branca em 2012.Estão em jogo, nestas eleições, todos os 435 postos de deputado federal, 37 dos 100 assentos no Senado e 37 dos 50 governos estaduais. Os republicanos, minoria nas duas casas, só precisam de 39 cadeiras na Câmara para reverter a composição política ; e as pesquisas apontam um ganho para a oposição que pode ir de 45 a 60 assentos. No Senado, apesar de os republicanos só precisarem de dez cadeiras para garantir a maioria, poucos apostam na virada dos ;vermelhos;. ;Os democratas devem manter o controle do Senado por uma margem muito pequena, mas vão manter. Já no caso da Câmara, 90% dos assentos considerados ainda indefinidos estão nas mãos dos democratas, e isso será muito difícil de manter;, avalia a especialista Amy Black, do Wheaton College, em Illinois.
Para despertar empolgação nessa reta final, um bem mais grisalho Obama voltou ao Grant Park, em Chicago, na noite de sábado, a fim de evocar o otimismo que fervilhou na festa da sua vitória, há dois anos. Recebido por milhares de pessoas, o presidente pediu que os eleitores fossem às urnas. ;Chicago, eu preciso que você continue lutando. Illinois, eu preciso que você continue acreditando;, clamou. Ontem, ao lado do vice, Joe Biden, ele visitou a Universidade Estadual de Cleveland, em Ohio, estado onde o desemprego atinge um em cada dez moradores. ;A questão principal é saber se os democratas conseguirão levar os seus cabisbaixos eleitores às urnas. Não é mais possível fazer com que os eleitores mudem de candidato, mas dá para convencer os democratas a votar;, observa o cientista político Alex Keyssar, da Universidade de Harvard.
[SAIBAMAIS]
Encorajar a base democrata a votar também é o conselho de Black para os governistas na reta final. ;A presença nas urnas nas eleições de meio de mandato é muito menor que nas eleições presidenciais ; às vezes representa a metade dos eleitores. E os republicanos estão motivados a votar, já que estão insatisfeitos e querem mudar Washington;, afirma a especialista, lembrando que a ação de Obama na campanha presidencial de 2008 resultou em uma presença recorde nas urnas. Só que a aceitação do democrata não é mais a mesma, e sua popularidade há muito tempo não ultrapassa os 50%. Para cobrir esse vácuo, a campanha democrata ;desenterrou; um empolgante Bill Clinton e capitalizou o carisma da primeira-dama, Michelle. Ela, inclusive, fará campanha hoje em estados-chave como a Pensilvânia e Nevada.
Situação crítica
Apesar de o presidente do Comitê Nacional Democrata, Tim Kaine, garantir que os democratas não estão sendo ;complacentes; em nenhuma disputa, é evidente que o partido tem investido mais em estados considerados ;críticos; ; em especial, em relação a postos no Senado. ;Eles, evidentemente, estão mais preocupados em perder a vaga de Nevada no Senado, porque Harry Reid é o líder democrata na casa. Perder esse posto seria muito desmoralizante e iria desencadear uma luta enorme de poder no Senado entre os democratas para eleger um novo líder;, afirma Peter Wallison, do American Enterprise Institute. Reid está tecnicamente empatado com a candidata republicana Sharron Angle, que integra o movimento ultraconservador Tea Party.
;Eles ainda querem vencer os candidatos ao Senado Carly Fiorina, na Califórnia, e Marco Rubio, na Flórida, porque ambos têm potencial para se tornarem estrelas nacionais;, destaca o especialista David Boaz, do Instituto Cato. No primeiro, Fiorina aparece atrás da democrata Barbara Boxer, mas por uma vantagem muito estreita. Já na Flórida, o candidato governista, Kendrick Meek, está tão mal que o partido usou Bill Clinton para tentar convencê-lo a abandonar a disputa e apoiar a opção ;independente; Charlie Crist, que está em segundo lugar, 13 pontos atrás de Rubio. Para o especialista da Fundação Heritage, no entanto, já é ;tarde demais; para qualquer tentativa democrata. ;Eles reagiram tarde demais para chamar as pessoas a agir. As eleições de 2 de novembro vão mostrar os resultados da inatividade dos democratas e de sua fraca iniciativa.;
As eleições legislativas e locais dos Estados Unidos, que acontecem nesta terça-feira, colocam em jogo cadeiras do Congresso, governos estaduais e vários referendos locais.
EM JOGO NAS ELEIÇÕES DOS EUA
CÂMARA DE REPRESENTANTES:
Será totalmente renovadas. São 435 cadeiras disputadas. Os democratas têm atualmente 255 representantes e os republicanos 178. Duas cadeiras estão vagas. Os republicanos precisam de 39 representantes a mais para alcançar a maioria.
SENADO:
Este ano são renovados 37 dos 100 senadores (dois por estado da União). Os democratas têm atualmente 57 senadores e contam com os votos de dois congressistas independentes. Os republicanos possuem 41 cadeiras na Câmara Alta e precisam ganhar outras 10 para obter mauoria, algo difícil de ser concretizado, segundo os analistas. Caso os dois partidos tenham 50 cadeiras cada, o voto do vice-presidente Joe Biden decide um eventual empate.
GOVERNADORES:
Os americanos vão eleger 37 dos 50 governadores do país. Os democratas têm atualmente 26 governadores, contra 24 dos republicanos. As pesquisas apontam a possibilidade de vitórias dos conservadores em mais 10 estados.
O QUE ESTÁ EM JOGO:
Se os republicanos conquistarem a maioria na Câmara de Representantes, o atual líder da minoria, John Boehner, será o presidente da Casa, em substituição à democrata Nancy Pelosi, que ocupa o cargo desde 2007. A maioria republicana colocaria em dúvida algumas reformas aprovadas sob a maioria democrata em 2009 e 2010, como as da saúde e a da regulamentação financeira. Mas os democratas conservariam uma minoria com capacidade de bloqueio e o presidente Barack Obama poderia fazer uso do direito de veto. Em caso de vitória, os republicanos também ficariam com as presidências das comissões do Congresso, com poderes de investigação sobre o governo.
ASSUNTOS BLOQUEADOS:
O amplo projeto de lei sobre a mudança climática defendido por Obama pode ficar paralisado no caso de vitória republicana. A reforma da imigração também tem poucas chances de avançar com um Congresso dominado pelos republicanos.
ELEITORES:
Durante as últimas eleições legislativas, em 2008 (simultâneas com as presidenciais), votaram 131 milhões de americanos, o que representa 64% do total apto para comparecer às urnas.