Agência France-Presse
postado em 02/11/2010 16:24
LONDRES - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, assinaram nesta terça-feira (2/11) dois tratados de cooperação nas áreas de defesa e de segurança, durante uma entrevista coletiva ao fim de uma reunião bilateral celebrada em Londres."Hoje inauguramos um novo capítulo em uma longa história de cooperação em defesa e segurança entre França e Grã-Bretanha", declarou Cameron, para quem os tratados são principalmente fruto do "pragmatismo".
Em uma era de rigor orçamentário, os novos tratados permitirão que os dois países continuem como personagens militares de dimensão internacional, sem renunciar à soberania, apesar dos temores de muitos eurocéticos britânicos.
"Soberania não quer dizer isolamento, quando alguém está isolado é frágil", declarou Sarkozy à imprensa em Lancaster House.
"Se vocês, amigos britânicos, tiverem que enfrentar uma crise grave, imaginam a França sentada com os braços cruzados dizendo que não é nosso assunto?", questionou o presidente francês.
O primeiro tratado acorda principalmente a criação de uma força expedicionária conjunta de entre 3.500 e 5.000 oficiais, que começará a ser treinada em 2011. A nova força não permanente será mobilizada para operações específicas da Otan, da ONU ou da União Europeia (UE) sob um comando único.
"Grã-Bretanha e França têm uma história compartilhada em duas Guerras Mundiais. Nossas corajosas tropas já lutam todos os dias no Afeganistão", recordou Cameron antes de completar: "Obviamente só nos comprometeremos conjuntamente com uma força se ambos estivermos de acordo com a missão".
O segundo tratado permitirá que os dois únicos países da UE dotados de força de dissuasão nuclear simulem a partir de 2014 o funcionamento de seu arsenal atômico em um mesmo laboratório perto da cidade de Dijon, no centro da França.
Um centro de pesquisas será inaugurado paralelamente na cidade britânica de Aldermaston a especialistas dos dois países, que também são signatários do tratado de proibição de testes nucleares,
O acordo entre Paris e Londres também prevê o uso compartilhado dos porta-aviões das duas nações a partir de 2020 para permitir que as aeronaves de um país operem a partir de um navio do país vizinho.
A manutenção do novo avião de transporte A400M e o treinamento de seus pilotos serão outras atividades comuns.
O acordo inclui ainda uma série de projetos militares comuns e de acordos destinados a aproximar as indústrias de defesa nas áreas de submarinos, aviões teleguiados e mísseis
A nova aproximação acontece 12 anos depois de uma reunião de cúpula celebrada na França, quando os então presidente francês Jacques Chirac e primeiro-ministro britânico Tony Blair se comprometeram a reforçar a cooperação militar, um desejo que em grande parte não foi concretizado.
Apesar de responder sobretudo a preocupações econômicas, a iniciativa provocou muitas críticas no Reino Unido, especialmente de parte da imprensa, que manifesta o temor de que as Forças Armadas britânicas passem a estar "às ordens da França".
O tablóide sensacionalista The Sun expressou o receio de que a França possa "bloquear" por exemplo uma nova guerra das Malvinas (Falklands), como a que a Grã-Bretanha travou com a Argentina em 1982, em uma das duas únicas vezes nos últimos 30 anos que as forças britânicas atuaram de modo solitário.