Agência France-Presse
postado em 02/11/2010 17:23
NOVA YORK - Uma manhã ensolarada e de céu limpo era o cenário desta terça-feira (2/11) de votação nos Estados Unidos, mas o clima entre os eleitores era sombrio: enquanto os democratas faziam uma campanha desesperada para defender o presidente Barack Obama, republicanos raivosos trabalhavam para consolidar a vantagem apontada nas pesquisas.Há pouco ou nada da atmosfera festiva que tomou conta do país dois anos atrás, quando Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos com uma mensagem de esperança e mudança.
Em Washington, os eleitores que chegavam para votar na escola Jefferson Jr., na parte sudeste da capital, percebiam no ar um forte contraste com o entusiasmo das últimas eleições.
"Votei neste mesmo local em 2008 - e também bem cedo, de manhã, antes de ir para o trabalho. Comparando com a experiência que tive naquele ano, votar hoje foi bem sem graça", disse Kristine Quinio.
No Harlem, histórico bairro de população negra e eleitores democratas de Nova York, um senso de urgência reinava nas zonas de votação logo de manhã, para não chegarem atrasados ao trabalho.
"O motivo pelo qual acordei cedo para vir aqui hoje é o fato de que muitas pessoas acham que a vitória republicana é uma coisa certa, e por isso não se dão ao trabalho de vir votar", disse o publicitário Andrew Miles, 46 anos, que passou na urna antes de seguir para o serviço. "Quero garantir que isso não aconteça, ou, pelo menos, saber que fiz meu papel", ponderou.
Nas cercanias de Wall Street, funcionários do setor financeiro diziam-se desapontados com os democratas, mas afirmam não estarem dispostos a mudanças bruscas neste momento. "É muito cedo para dizer. As pessoas esquecem como estava a situação quando Obama chegou ao poder. O que precisamos para nossos negócios é estabilidade, e é isso que buscamos", comentou Dan Lustig, corretor de imóveis.
As eleições de meio de mandato renovarão todos os assentos da Câmara dos Representantes, além de um terço do Senado e a maioria dos governos estaduais. Muitos, no entanto, consideram que o pleito servirá, acima de tudo, como um referendo sobre o próprio Obama.
Na cidade de Liberty, no Missouri, a professora Jane Boswell explicou que normalmente vota em candidatos republicanos, mas decidiu desta vez apoiar os democratas, assustada com o tom raivoso do partido de direita.
"Achamos que a mudança deve acontecer do dia para a noite, mas estou frustrada com adultos que acreditam que ela deve acontecer imediatamente", afirmou. "Neste momento, são como um trem desgovernado, que muda de trilhos a todo o momento".
Os republicanos estão ansiosos para ver na contagem dos votos a concretização do que anunciam as pesquisas, que indicam um estrondoso revés para os democratas em Washington, onde os democratas dominam as duas casas do Congresso americano.
"Acho que este país acordou, e veremos um comparecimento maior do que qualquer um esperava", estimou Tricia Meyer, moradora de Liberty, que disse ter votado pelos republicanos. "Temos que colocar os republicanos de volta lá", acrescentou Ima Rahter, que também votou na Igreja Luterana Evangélica Hosanna, em Liberty.
Outro eleitor da cidade, Bob Couch, também afirmou ser eleitor do Partido Republicano, por ser a favor de "um governo menor e menos impostos".
Este argumento ecoou por todo o país, num momento em que a economia - agora livre da recessão - se recupera lenta e instavelmente, situação que cada vez mais americanos atribuem a Obama e ao Congresso de maioria democrata.
"Estou desempregado há quase um ano", desabafou Tom Gutierrez, 41 anos, eleitor republicano, que votou no bairro Little Havana, em Miami. "Preciso encontrar um trabalho, e tenho certeza de que não conseguirei um com os democratas".