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Após derrota, Obama fala aos americanos nesta tarde

Silvio Queiroz
postado em 03/11/2010 09:18

O encontro com a imprensa, o establishment político e o público em geral está marcado para a tarde de hoje: Barack Obama dará entrevista coletiva na Casa Branca para comentar o resultado das eleições de ontem, em que seu partido, o democrata, se encaminhava para a derrota certa. A dimensão e as consequências do revés determinarão em boa parte a estratégia do presidente para os dois anos finais de mandato e a batalha pela reeleição, que se anuncia muito mais dura que a campanha vitoriosa à Casa Branca, em 2008.

No primeiro encontro com as urnas desde a histórica vitória de 2008, Barack Obama paga o preço da crise econômica e do desemprego recorde
Nos 50 estados e na capital, Washington, os americanos votaram para renovar as 435 cadeiras da Câmara e 37 das 100 vagas no Senado. Pareciam remotas as chances de os governistas salvarem a folgada maioria conquistada há dois anos na Câmara (255 deputados): a última pesquisa do instituto Gallup dava à oposição republicana uma vantagem de 55% a 40%, a maior verificada em eleições legislativas de metade de mandato desde 1974. Quanto ao Senado, os democratas lutavam para administrar as perdas e preservar ao menos uma maioria apertada ; nem em sonho pensariam em continuar com 57 cadeiras (mais dois independentes). Até o fechamento desta edição, projeções da rede CNN indicavam que os republicanos tinham conquistado 59 vagas na Câmara, enquanto os democratas tinham 23. Para o Senado, a disputa estava nove a quatro a favor dos republicanos.

Você poderia passar 15 minutos entrando em contato com os eleitores para dizer a eles como é importante que votem hoje?;, apelou Obama em mensagem postada no Twitter. ;Depois de votar, diga para seus amigos no Facebook: ;Eu votei;;, sugeriu em outro post. O presidente que fez da internet um instrumento político decisivo para ocupar a Casa Branca passou a terça-feira dividindo seu tempo entre o computador e entrevistas. Em uma delas, apelou aos eleitores latinos, que o apoiaram em massa em 2008.

Desta vez, Obama pediu socorro para um aliado-chave, o líder democrata no Senado, Harry Reid, ameaçado de perder a cadeira por Nevada para a desafiante Sharron Angle, republicana identificada com o movimento ultraconservador Tea Party. ;O voto hispânico é crucial;, insistiu. O presidente falou também a emissoras na Califórnia, na Pensilvânia, na Flórida e em Illinois ; onde a vaga em disputa pertencia ao próprio presidente até 2008. Em todos esses estados, a esperança dos democratas era que o receio de uma vitória acachapante para a oposição levasse os entusiastas de Obama a comparecerem em maior número ; o voto não é obrigatório nos EUA.

Guinada conservadora

No bairro negro do Harlem, em Nova York, uma das mais tradicionais fortalezas democratas, o chamado parece ter encontrado eco. ;O motivo pelo qual acordei cedo hoje é o fato de que muita gente acha que a vitória republicana é líquida e certa, e por isso não quer votar;, comentava Andrew Miles, publicitário de 46 anos que compareceu à urna antes de seguir para o trabalho. ;Quero impedir que isso aconteça, ou pelo menos ter a consciência de que fiz a minha parte.; Mas com o país patinando na recessão e a taxa de desemprego em 9,6%, a mais alta em três décadas, muitos eleitores saíram de casa com determinação oposta. ;Estou sem trabalho há mais de um ano;, declarou Tom Gutiérrez, 41 anos, antes de depositar seu voto para a oposição, na Flórida. ;Temos que colocar os republicanos de volta lá (no Congresso);, reforçou Ima Rahter, do Missouri.

;O povo americano vai falar alto e claro;, exultava o californiano Mark Meckler, um dos fundadores do Tea Party em Sacramento. Entusiasmados com a energia que colocaram na campanha republicana com uma série de comícios e manifestações, tendo como ícone a candidata derrotada à Vice-Presidência Sarah Palin, os núcleos do Tea Party tinham festas programadas em várias cidades de costa a costa dos EUA, independentemente do sucesso de seus candidatos. ;Vamos ter uma maioria republicana e conservadora na Câmara, quanto a isso não resta nenhuma dúvida;, festejava Richard Armey, que já liderou a bancada republicana na casa e deu importante respaldo ao Tea Party em Washington. ;Estamos assistindo a uma transformação, à reabilitação do Partido Republicano.;

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