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Birmaneses escolheram 1.159 parlamentares em eleições históricas

postado em 08/11/2010 07:00
Quando as urnas se fecharam às 16h de ontem (7h30 em Brasília), o birmanês Wynn Htun Shein estava a pelo menos 13,5 mil quilômetros de Mianmar. Em 10 de julho passado, ele deixou os pais e os nove irmãos em Yangun, farto da Junta Militar, e foi morar em Nova York. A tristeza ante a repressão em seu país natal o manteve praticamente alheio da primeira votação em 20 anos. ;Todos os partidos presentes nessas eleições são compostos por militares. Trata-se de um pleito vergonhoso e falso;, desabafou. Pelo menos 29 milhões de birmaneses estavam aptos a depositar seus votos em 40 mil seções eleitorais para escolher quem ocupará as 1.159 cadeiras do Parlamento bicameral, além dos integrantes das assembleias regionais.

[SAIBAMAIS]Principal líder da oposição e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Sunn Kyi cumpre prisão domiciliar. Seu partido, a Força Democrática Nacional (NDF), decidiu boicotar o processo, marcado por denúncias de irregularidades. A NDF e o Partido Democrata (PD) acusaram o governo do general Than Shwe de recolher votos antes mesmo da abertura das urnas.

;Nós nos inteiramos que o Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União (USDP, pró-Junta Militar) tenta obter, junto às autoridades dos distritos, votos de antemão, comprando ou ameaçando as pessoas;, afirmou o PD, por meio de uma carta à Comissão Eleitoral. Dois terços dos candidatos dos 37 partidos representam a USDP e o Partido da Unidade Nacional (NUP), ambos aliados de Shwe.

Para o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro ; relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a situação dos direitos humanos em Mianmar entre 2000 e 2008 ;, as eleições são a última etapa do processo de consolidação autoritária do regime. ;Basta lembrar que o Parlamento terá, obrigatoriamente, 25% dos assentos escolhidos pelos militares;, afirma ao Correio, por e-mail. ;Quase 2 mil prisioneiros políticos continuam detidos; não existe horário eleitoral gratuito na TV e todos os materiais de propaganda partidária precisam ser feitos pela oposição;, acrescenta. Pinheiro também lembra que a Junta Militar vetou a presença de jornalistas estrangeiros ou observadores internacionais, e se disse incrédulo de mudanças. ;O USDP é um partido ligado umbilicalmente à Junta, assim como a Arena era na época da ditadura no Brasil. Se esse partido eleger muitos representantes, ajudará a consolidar o regime militar;, comenta.

Por sua vez, o britânico Derek Tonkin, presidente da organização não governamental Rede Mianmar, a nova Constituição do país proclama a democracia multipadtidária. ;Inevitavelmente, a nova democracia terá ;características birmanesas; inaceitáveis para o Ocidente, incluindo uma participação militar. Precisamos esperar até as próximas eleições, em 2015, para ver se a população concordará com um governo dessa maneira;, explica à reportagem. Os resultados das eleições serão publicados na próxima semana. O novo Parlamento designará um presidente, a primeira figura civil de um país dirigido por militares desde 1962, provavelmente o próprio general Than Shwe.

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