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ARTIGO - Do ceticismo à esperança, por Derek Tonkin

postado em 08/11/2010 07:04
A importância das eleições em Mianmar residem no fato de que elas estão acontecendo. Apesar de todas as falhas graves, a nova Constituição birmanesa proclama uma democracia multipartidária, que é a meta pela qual o país pode trabalhar. Inevitavelmente, a nova democracia terá ;características birmanesas; inaceitáveis para o Ocidente, incluindo uma participação militar. Mas teremos que esperar até as próximas eleições, em 2015, para ver se o povo concorda com um governo dessa maneira. As eleições em 7 de novembro são apenas um teste, um ensaio geral. O povo birmanês está esperançoso pelo futuro, mas cético em relação ao presente.

[SAIBAMAIS]O Partido da Solidariedade e do Desenvolvimento da União (USDP) é o governo militar em roupas civis. Mas há outro partido militar, o Partido da Unidade Nacional (NUP), que disputou as eleições em 1990 e consideram o USDP como uma espécie de entidade júnior. O NUP apoia o domínio militar na Nova Constituição, mas tem políticas econômicas mais progressivas. Eles estão a favor, por exemplo, da concessão dos direitos de propriedade sobre a terra para fazendeiros, a fim de subtituir os direitos de uso da terra que o Estado pode tomar a qualquer hora. O USDP aidna apoia o sistema atual, que concede ao Estado controle firme sobre as vidas da população rural.

O USDP deve ganhar a maior parte dos votos na Câmara Baixa, que é a principal câmara de debates. O NUP poderia controlar o balanço de representantes eleitos (330) e da Casa inteira (440). As eleições devem ser estudadas cuidadosamente. O establishment militar não está sob ameaça, mas novos e competitivos focos de poder estão se abrindo, em contraste com o governo militar direto. Há muita incerteza a caminho. Mas as eleições são um divisor de águas.

A democracia no Sudeste da Ásia ainda está florescendo. Levou anos para que a Indonésia, as Filipinas e a Tailândia alcançassem seu estado volátil e em todos esses três países os militares permanecem muito influentes. Eles veem em Mianmar um reflexo de seus próprios problemas 30 ou 40 anos atrás. A Tailândia ainda não está imune a golpes militares.

É absolutamente certo, mas também muito fácil, condenar as eleições por não ser livre, justa e participativa. Mas as políticas ocidentais de sanções e o isolamento ao longo das duas últimas décadas apenas serviram para empurrar Mianmar à órbita chinesa ; nos âmbitos comercial, financeiro e industrial ;, e isso apenas encorajou a influência ideológica e política da China. Como resultado, o regime militar se torna mais recalcitrante, mais difícil de lidar. O Ocidente precisa de uma estratégia de resposta desenhada a recuperar a influência perdida. Isso significa um fim nas pré-condições abertamente declaradas para o engajamento pelo progresso e uma revisão das sanções, especialmente contra indústrias de trabalho intensivo que fornecem empregos, tais como têxteis, turismo e exportações de frutos do mar. O Ocidente precisa trabalhar mais próximo aos países dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e aos vizinhos da Asean para resolver os problemas econômicos de Mianmar. A democracia somente se enraizará uma vez que os padrões de vida melhorem e que uma classe média se estabeleça.

Derek Tonkin é presidente da organização não governamental Rede Mianmar

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