postado em 12/11/2010 09:52
Depois de oito meses sem um governo definido, os principais líderes políticos do Iraque chegaram a um acordo ontem sobre quem deve administrar o país. O histórico pacto leva em conta etnias e religião. O xiita Nuri al-Maliki terá um segundo mandato como primeiro-ministro e o curdo Jalal Talabani seguirá na Presidência da República. A maior parte dos deputados do partido do ex-premiê Iyad Allawi decidiu boicotar a votação. O controle do Parlamento ficará com o deputado sunita da lista Iraqiya Osama al-Nujaifi. Segundo o presidente da região autônoma do Curdistão, Masud Barzani, o Parlamento se reuniu ontem para resolver o tema dos três postos e ;formar um governo baseado em uma associação real, que dará segurança ao povo;. Após o anúncio de sua eleição, Talabani declarou que ;vai pedir; a Al-Maliki para formar o próximo governo nacional.Foram três dias de difíceis negociações, ocorridas em Bagdá e em Erbil (capital da região curda), para colocar um fim à disputa que se estendia desde as eleições legislativas de 7 de março. Apesar de seu movimento ter eleito apenas 89 dos 325 deputados, Al-Maliki não aceitou deixar o poder. Por outro lado, o ex-premiê Iyad Allawi reivindicava o mesmo posto, alegando que sua lista era laica, apoiada pelos sunitas, e que tinha vencido as eleições, com um total de 91 deputados.
;Nos últimos minutos da reunião de quarta-feira, nossos irmãos da Iraqiya adotaram uma atitude muito responsável e decidiram participar do governo e da reunião do Parlamento. Espero que o líder da Iraqiya aceite dirigir o Conselho Nacional de Política Superior (CNPS), já que é um posto de grande responsabilidade;, comentou Barzani. Segundo o líder dos curdos, o novo organismo será criado por lei para tomar decisões estratégicas importantes, como questões de segurança. Analistas afirmam que o cargo foi criado como forma de compensar Allawi, excluído do governo.
Inviável
Para Louay Bahry, ex-professor de ciência política da Universidade de Bagdá e analista do Instituto para o Oriente Médio, sediado em Washington, o governo de Al-Maliki não conseguirá cumprir com o compromisso das três frentes de governo ao mesmo tempo: sunitas, xiitas e curdos. ;(O pacto) Está baseado em divisão de poder, não considero um governo viável. Mais cedo ou mais tarde haverá um conflito;, disse Bahry ao Correio, por telefone. ;Maliki é um homem forte e quer um governo central forte. Agora temos um problema, porque todos os grupos desejam autoridade e poder. Não é um compromisso viável dividir o poder por três;, reitera o iraquiano. Bahry também afirma que é cedo para desenhar os rumos do Iraque. ;Temos que esperar agora para ver quem será nomeado para os ministérios e ver quem ficará com pastas importantes, como as de Economia e Energia. Quem vai administrar o petróleo?;, questiona.
O governo dos Estados Unidos qualificou de ;grande passo adiante; a conclusão do pacto. ;O aparente acordo para formação de um governo de inclusão significa um grande passo adiante para o Iraque;, disse ontem Anthony Blinken, assessor de segurança nacional do vice-presidente Joe Biden. A Casa Branca preferia que Allawi ficasse no cargo de chefe de Estado e chegou a manifestar reservas sobre a participação no governo dos partidários do clérigo radical xiita antiamericano Moqtada al-Sadr. O líder religioso determinou que os cerca de 40 assentos controlados por ele no Parlamento apoiarão Al-Maliki.
Cristãos
O acordo chega depois de uma série de violentos atentados cometidos no país, inclusive contra a comunidade cristã, que ameaça deixar o país. Desde 2003, as estatísticas indicam que o número de cristãos no Iraque caiu de 900 mil para 450 mil. ;É muito triste. Os iraquianos estão chocados com o massacre dos cristãos;, diz Bahry. ;Eles pertencem a uma comunidade muito antiga ; que data dos primeiros dias do cristianismo, antes mesmo de o islã chegar ao Iraque. Além disso, os muçulmanos de verdade reconhecem e respeitam os cristãos;, garantiu o pesquisador.
Sunitas prejudicados
;É uma grande perda para os sunitas. (O ex-premiê Ayad) Allawi conseguiu o maior número de assentos nas eleições de março. E, agora, eles não obtiveram nem o cargo de primeiro-ministro nem a Presidência. Allawi teve que nomear o porta-voz do Parlamento. Eu acho que o Conselho Nacional de Política Superior foi uma maneira que os Estados Unidos arrumaram para dar uma pequena vitória a ele.;
Louay Bahry, ex-professor da Universidade de Bagdá