Agência France-Presse
postado em 13/11/2010 14:40
PARIS - A libertação da dissidente birmanesa Aung San Suu Kyi, que passou encarcerada 15 dos últimos 21 anos, foi recebida com alívio pela comunidade internacional, em meio à esperança de que seja um primeiro passo para as mudanças em Mianmar e a libertação de outros presos políticos.Alguns defensores dos direitos humanos temem que a libertação seja, apenas, estratégia da junta militar birmanesa para fazer baixar a pressão internacional.
Sua libertação é "bem-vinda, mas não faz mais do que marcar o fim de uma condenação injusta", "pronunciada ilegalmente", e "não representa em nenhum caso uma concessão por parte das autoridades", observou em Londres a Anistia Internacional.
Para Elaine Pearson, responsável da Human Rights Watch (HRW), "a libertação faz parte de uma estratégia profundamente cínica do governo militar para desviar a atenção da comunidade internacional de eleições ilegítimas".
A junta militar no poder há meio século em Mianmar (nome dado pela ditadura à antiga Birmânia), realizou eleições domingo passado, as primeiras em 20 anos. Os militares reivindicaram vitória em 80% das urnas antes mesmo de divulgados os resultados oficiais.
"Sinto-me mais tranquilo", reagiu o secretário-geral da Associação de Nações do Sudeste asiático (ASEAN), o tailandês Surin Pitsuswan, em Yokohama (Japão), onde participa do Foro econômico Ásia Pacífico (APEC).
Também em Yokohama, o presidente americano Barack Obama, premio Nobel da paz 2009, congratulou-se com a libertação "tão esperada", prestando homenagem à "valente" Aung San Suu Kyi.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também pediu à junta "consolidar o gesto de hoje libertando todos os demais prisioneiros políticos".
Segundo a Grã-Bretanha, ex-potência colonial na então Birmânia (1855-1948) e país onde vivem os dois filhos da dissidente, a junta militar de Mianmar mantém 2.100 presos políticos em seus cárceres.
Para Berlim, "o pacifismo e a intransigência fizeram da opositora um modelo".
A França advertiu as autoridades birmanesas contra "qualquer obstáculo imposto, a partir de agora, à liberdade de movimento e de expressão" de Aung San Suu Kyin.
A Comissão Europeia exige que goze de total liberdade e "possa participar plenamente do processo político no país".
A Itália lembrou a esmagadora vitória do partido de Aung San Suu Kyin, a Liga Nacional pela Democracia (LND) nas primeiras eleições na Birmânia, em 1990.
A China não reagiu imediatamente, mas a agência oficial Xinhua divulgou a libertação, qualificando a dissidente de "importante figura política".
Pequim, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, e que mantém na prisão Liu Xiaobo, prêmio Nobel da Paz 2010, protege Mianmar de possíveis sanções da ONU pela situação dos direitos humanos no país.