Agência France-Presse
postado em 14/11/2010 15:44
YANGUN - A dissidente birmanesa Aung San Suu Kyi retornou neste domingo (14/11) à arena política, depois de sete anos de ausência, com um apelo à unidade das forças democráticas de Mianmar (nome dado pela junta militar à antiga Birmânia), em discurso pronunciado na sede de seu partido, no dia seguinte de sua libertação.Ao dirigir-se a seus companheiros da Liga Nacional para a Democracia (LND) e a milhares de seguidores reunidos para ver como assumia novamente a liderança contra o regime militar, Suu Kyi reivindicou seu lugar no tabuleiro político.
"Quero trabalhar com todas as forças democráticas", declarou a também prêmio Nobel da Paz.
"Não guardo nenhum rancor. Acredito nos direitos humanos e no império da lei", afirmou a opositora, vestida com a roupa tradicional azul marinho.
"A democracia é a liberdade de expressão", insistiu. "Preciso da energia do povo (...). Quero ouvir a voz do povo e, depois, decidiremos o que queremos fazer."
O banho de multidão de sábado, quando apareceu radiante nos gradis de sua velha casa familiar de Yangun, prolongou-se neste domingo na sede do LND, onde estava sendo aguardada por milhares de seguidores entusiasmados.
Muitos duvidam que a junta militar no poder permita a ela envolver-se em atividades políticas, interrogando-se sobre os limites que vão ser impostos, mas o advogado de Suu Kyi, Nyan Win, confirmou à AFP que sua libertação foi incondicional.
Muitas também são as expectativas que leva sobre os ombros Aung San Suu Kyi, uma mulher carismática de 65 anos, de compleição delgada mas com uma força psicológica a toda a prova.
"Gostaríamos de ouvir falar do futuro político de Mianmar, (...) da situação económica e social do país. Os preços aumentam, nosso pobre povo sofre. Queríamos ouvir suas soluções", afirmou Nyi Min, um militante do LND.
"Nosso país deverá tornar-se democrático, nosso futuro - disse - depende de Aung San Suu Kyi".
No entanto, embora os partidários depositem nela suas esperanças democráticas, a filha do general Aung San, figura venerada da independência birmanesa, está debilitada ante a uma junta militar mais poderosa do que nunca.
A junta dissolveu o LND, que boicotou as eleições legislativas de domingo passado, deixando a oposição democrática a sua mercê. Alguns dirigentes do partido abandonaram o partido, para criar a Força Democrática Nacional (NDF) e conseguir participar do pleito.
As próximas semanas serão cruciais para ver se o chamado à unidade se cristaliza ou, ao contrário, a fratura é muito profunda.
Aung San Suu Kyi, que passou quase 15 dos últimos 21 anos privada de liberdade, também terá que se familiarizar com um país sobre o qual nada sabe desde 2003.