Agência France-Presse
postado em 16/11/2010 08:58
BANGCOC - A Tailândia extraditou nesta terça-feira (16/11) o traficante de armas russo Viktor Bout, conhecido como "o mercador da morte", para os Estados Unidos. A medida encerrou uma saga diplomática e judicial que durou dois anos e meio.Bout, ex-piloto do Exército soviético, foi detido em Bangcoc em março de 2008 depois de um encontro com agentes americanos que se fizeram passar por integrantes da guerrilha colombiana das Farc.
O russo, que nos Estados Unidos pode ser condenado à prisão perpétua, é acusado de ter utilizado aviões de carga para transportar armas à África, América do Sul e ao Oriente Médio.
Bout fala seis idiomas e utilizou seis codinomes nos últimos anos. Ele inspirou o personagem de Nicolas Cage no filme O Senhor das Armas e alega que administrava uma atividade de frete legal.
O governo da Rússia considerou a extradição de Bout "ilegal", "carente de explicação racional" e determinada por uma "pressão sem precedentes" dos Estados Unidos.
"Não há dúvida alguma que a extradição ilegal de Bout é produto da pressão política sem precedentes exercida pelos Estados Unidos sobre o governo e a justiça da Tailândia", afirmou em um comunicado o ministério das Relações Exteriores russo.
"Do ponto de vista do direito, o que acontece é carente de explicação e de justificativa racional", completou a nota da diplomacia russa.
O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse ainda que seu país apoiará de todas as formas Bout. "Esta história é um exemplo de injustiça extrema", declarou Lavrov em uma coletiva no Quênia. "A Rússia, como país, o continuará apoiando por todos os meios", afirmou.
"Bout deixou o território tailandês às 13h27 (4h27 de Brasília), pelo aeroporto Don Muang", afirmou o coronel Supisarn Bhakdinarunart. "Eu mesmo o embarquei em um avião americano que tinha seis oficiais para escoltá-lo", completou o chefe de polícia.
Bout, de 43 anos, foi rapidamente extraditado depois que o governo anunciou a decisão. Em poucas horas, ele foi levado da penitenciária para os serviços de imigração e, em seguida, entregue aos americanos no aeroporto.
Alla Bout, esposa do acusado, não conseguiu chegar a tempo para despedir-se do marido no aeroporto, de onde saiu chorando ao lado do advogado tailandês.
"Foi tudo muito rápido. É estranho. Com certeza Alla está preocupada. Não esperava isto", disse Andrei Dvornikokv, cônsul russo em Bangcoc.
A justiça tailandesa aceitou em agosto a extradição de Bout para ser julgado por "terrorismo" nos Estados Unidos, mas o procedimento estava bloqueado por uma segunda denúncia de lavagem de dinheiro e fraude apresentada pelos americanos. Washingtou adotou a estratégia por temer um eventual fracasso da primeira denúncia.
Mas o tribunal penal de Bangcoc rejeitou a segunda denúncia por considerar que não havia provas suficientes, abrindo caminho para a extradição.
A defesa de Bout tentou uma apelação final, mas não teve êxito. O advogado do traficante em Moscou, Viktor Burobin, afirmou que a decisão de extraditar seu cliente era "ilegal", mas admitiu que será impossível anular ou contestar a determinação enquanto o cliente estiver em território americano.