postado em 21/11/2010 08:51
Militantes dos direitos humanos no Brasil não estão nada satisfeitos com a abstenção do país na votação de uma proposta aprovada na Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU) condenando as amputações, as chibatadas e o apedrejamento como forma de punição no Irã. O documento foi votado e aprovado na última quinta-feira com o apoio de 80 países integrantes da ONU contra 44. Outros 56, mais o Brasil, se abstiveram. A justificativa da posição do país quanto à proposta está no fato de ela ter sido tratada na Assembleia Geral da ONU e não no Conselho de Direitos Humanos da organização, o que, segundo a diplomacia brasileira, seria mais adequado.De acordo com representantes da sociedade civil, a postura do Brasil se mostra dúbia e contraditória. A começar por ferir os princípios da Constituição, que prega o respeito aos diretos humanos acima de qualquer interesse econômico ou político. Depois, pelo fato de ir contra ao trabalho realizado dentro do país. Enquanto o Brasil avança internamente na área de direitos humanos, principalmente com o apoio do governo federal, que vem interferindo, denunciando e cobrando dos estados abusos da polícia, por exemplo, o que se vê lá fora é o contrário, sustentam.
A posição do Brasil em se abster na votação da resolução representaria, então, o não reconhecimento dos direitos civis. ;Não dá para entender como um país que elege Dilma Rousseff como presidente não condena a violência contra a mulher no Irã;, indigna-se o advogado Ariel de Castro Alves, membro do Movimento Nacional de Direitos Humanos. A coordenadora de Relações Internacionais da Conectas Direitos Humanos e secretária executiva do Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa, Lúcia Nader, informa que o voto de abstenção do Brasil condenando as práticas institucionais do Irã não é novidade. A última vez que o país votou contra o Irã foi em 2004. ;Se o país afirma a preocupação com os direitos civis, sua posição nessa votação não se justifica;, disse.
Neste sábado (21/11), o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irã, Manouchehr Mottaki, afirmou em uma coletiva de imprensa que as nações que votaram contra o país estavam fazendo um ;show de marionetes;. Segundo ele, os governantes do Ocidente ;não estão em condições de falar sobre direitos humanos;. O ministro criticou o que considera interferência em uma questão nacional. ;Nenhum país do mundo deveria se interferir em nossos assuntos;, disse. Mottaki aproveitou para criticar a ocupação americana no Iraque e no Afeganistão.