Agência France-Presse
postado em 22/11/2010 20:32
Bogotá - O asilo concedido pelo Panamá à ex-chefe do serviço secreto colombiano, envolvida em um escândalo de espionagem no governo passado, de Alvaro Uribe, coloca sob pressão o atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afilhado político do ex-presidente.María del Pilar Hurtado, que dirigiu o serviço secreto colombiano (DAS) entre agosto de 2007 e outubro de 2008, é investigada pela Procuradoria por ordenar escutas ilegais e dossiês sobre juízes, políticos da oposição e jornalistas durante o governo Uribe (2002-2010).
A Procuradoria estava próxima de uma decisão sobre processar Hurtado quando ela obteve asilo no Panamá, na última sexta-feira.
O escândalo do DAS envolve Uribe, que é alvo de uma CPI no Congresso sobre os grampos e as investigações ilegais.
"Estamos diante de uma jogada política armada com a senhora Hurtado e com pessoas que têm certa influência e alto nível no governo do Panamá. O primeiro interessado em que ela esteja fora é o ex-presidente Alvaro Uribe", acusou o parlamentar Iván Cepeda, do Pólo Democrático, um dos partidos submetidos à vigilância ilegal da DAS.
Apesar do governo Santos lamentar a decisão do Panamá de conceder o asilo, até o momento não fez qualquer protesto formal.
"A Procuradoria já pediu que proteste, a Suprema Corte também, então Santos precisa decidir se vai dar as costas a Uribe e apoiar os organismos judiciais", disse a analista política Claudia López à AFP. "Está claro que Hurtado é o elo que confirmaria que as ordens (para os grampos e a vigilância) vieram da presidência".
Santos, ministro da Defesa de Uribe entre 2006 e 2009 e candidato oficial, assumiu a presidência da Colômbia em agosto passado.
Em três meses de governo, uma série de escândalos "herdados" de Uribe e envolvendo organismos do Estado, como a direção antinarcóticos e a instituição de atendimento às vítimas de sequestro, tem sacudido a administração de Santos.
Mas o caso do DAS é, sem dúvida, o que mais envolve o ex-presidente. "Santos tem que ir cada vez mais longe para manter sua lealdade a Uribe", opinou Claudia López.
Para o cientista político Rubén Sánchez, professor da Universidade do Rosário, em Bogotá, o próprio Uribe sugeriu à ex-chefe do DAS pedir asilo no Panamá, "para derrubar as investigações".
"O governo Santos não parece interessado em aprofundar este caso. Não acredito que queira enfrentar Uribe neste momento que tramitam vários projetos de lei de grande interesse" e para os quais precisa de todo apoio no Congresso, disse Sánchez à AFP.
O DAS é um órgão ligado diretamente à presidência colombiana e Uribe, que nega qualquer envolvimento no caso dos grampos, disse em outubro que está disposto a "assumir a responsabilidade jurídica e política" da questão.