Agência France-Presse
postado em 22/11/2010 20:42
Santa Cruz (Bolívia) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse nesta segunda-feira (22/11) que ninguém "vai proibi-lo" de assinar acordos com países como o Irã, em um duro ataque aos Estados Unidos, na inauguração da IX Conferência de Ministros da Defesa das Américas, na cidade boliviana de Santa Cruz, que reúne representantes de 30 países.Morales aproveitou seu discurso de abertura do encontro, diante de ministros e convidados de países das Américas e da Europa, para responder às declarações, feitas na véspera, pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, que pediu cautela aos países que fazem acordos com o Irã.
"A Bolívia, sob a minha direção, terá acordos, alianças com todo o mundo, ninguém vai me proibir, temos direito, somos da cultura do diálogo", disse Morales, em discurso na presença de Gates.
Em Santa Cruz, o secretário de Defesa americano havia dito, na véspera do evento, que "os países que estão negociando com o Irã neste campo (indústria nuclear) devem ser cautelosos e muito cuidadosos sobre como interagem os iranianos, com relação a seus motivos reais e que são o que realmente estão tentando fazer".
Venezuela e Bolívia, não mencionados por Gates, têm assinado acordos e estreitado laços com o Irã nos últimos anos.
As declarações do presidente boliviano contra Washington apontaram em várias direções.
"Eu tive que enfrentar que um embaixador (dos Estados Unidos) organizasse e planejasse para acabar, antidemocraticamente, com a minha gestão e sinto que isto se repete em todo o mundo", disse Morales, lembrando as acusações sobre o suposto apoio do diplomata Philipe Goldberg a um golpe civil, em 2008.
Goldberg foi expulso da Bolívia em setembro daquele ano, acusado de envolvimento na tentativa de golpe, enquanto a Casa Branca, que negou as acusações, também expulsou o embaixador boliviano, por razões de reciprocidade.
Na opinião de Morales, Washington apoiou movimentos antidemocráticos na Venezuela (2002), na Bolívia (2008), em Honduras (2009) e no Equador (2010).
"O império americano nos venceu (em Honduras), mas nós, os povos das Américas, vencemos na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Estamos em 3-1 com os Estados Unidos", disse, antes de emendar: "só não há golpe nos Estados Unidos porque não há embaixada dos Estados Unidos nos Estados Unidos;".
A 9; Conferência de Ministros da Defesa das Américas reúne representantes de 30 países da América Latina e do Caribe. Até quinta-feira, os ministros debaterão três temas essenciais: paz na região, igualdade de gênero, interculturalismo e atenção a desastres e gestão de riscos.