postado em 25/11/2010 08:00
No próximo domingo, navios, aviões e canhões estarão em alerta no Mar Amarelo, sob o comando da Coreia do Sul e dos Estados Unidos, para um exercício militar. A manobra é resposta ao bombardeio norte-coreano contra uma ilha do sul, na última terça-feira. O regime comunista de Pyongyang alega que respondeu a disparos do vizinho, e classificou os exercícios anunciados por Seul e Washington como uma ;provocação militar;, que só tende a agravar as tensões na Península Coreana. Em meio à escalada, o presidente americano, Barack Obama, pediu ajuda à China, considerada a única potência com capacidade de influenciar a Coreia do Norte. O governo sul-coreano confirmou ontem a morte de dois civis, que se somam à perda de dois fuzileiros navais no ataque à ilha de Yeonpyeong. O presidente Lee Myung-Bak conversou por telefone com Obama para montar uma estratégia rápida de defesa contra uma nova ;provocação; norte-coreana. Sanções econômicas e condenações verbais não foram respeitadas anteriormente.
Na frente diplomática, os EUA decidiram recorrer à influência do governo chinês para tentar controlar os ânimos do ditador comunista, Kim Jong-il. ;A China tem um papel essencial para levar a Coreia do Norte a uma mudança radical de rumo;, declarou em Washington o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley. ;Pequim deve enviar uma mensagem direta ao regime norte-coreano e ser tão claro quanto nós;, afirmou. ;A China pede fortemente às Coreias do Norte e do Sul que exerçam calma e contenção, e comecem o diálogo o mais rapidamente possível;, diz um comunicado da chancelaria chinesa, na primeira reação oficial do governo ao incidente na vizinhança.
Segundo Scott Snyder, diretor do centro de política coreana e americana da Fundação Ásia, é preciso pressionar o governo norte-coreano, e nisso Pequim tem um papel fundamental. ;Sem a cooperação chinesa, os Estados Unidos e seus aliados encaram diferentes opções de como lidar com a Coreia do Norte. Quanto mais cedo essas opções forem esclarecidas, melhor para as relações entre os países;, disse ao Correio.
De acordo com o cientista político Yong Chen, da Universidade da Califórnia, a aposta no exercício militar foi a melhor saída para tentar evitar um conflito maior. ;É uma forma de mostrar a força militar na região e o apoio americano (à Coreia do Sul). Não fazer nada seria um sinal de fraqueza. Nenhuma das partes tem interesse em uma guerra, muito menos os Estados Unidos. A China é uma outra peça importante nesse cenário: eles ainda têm uma grande influência sobre o norte, e fariam qualquer coisa para prevenir um confronto armado. Agora, se nenhum dos dois países quiser dar um passo para trás, isso seria inevitável;, adverte o especialista.
Troca de comando
A Coreia do Norte não admite culpa pelo ataque. Em um comunicado oficial, o governo de Pyongyang afirma que a Coreia do Sul ;agravou a situação na Península Coreana ao cometer uma imprudente provocação militar, depois de disparar (contra território norte-coreano) dezenas de projéteis, a partir das 13h do dia 23;. A liderança do regime comunista ameaça agir de novo com ;ataques sem piedade, sem hesitar, se o inimigo sul-coreano ousar invadir nossas águas territoriais, mesmo que seja em apenas 0,001mm;.
O impasse militar coincide com os movimentos iniciais para a possível sucessão de Kim Jong-il por seu filho mais novo, Kim Jong-un. De acordo com Roland Bleiker, professor de relações internacionais da Universidade de Queensland, na Austrália, o regime norte-coreano está enfraquecido e tenta a qualquer custo demonstrar poderio. O chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, almirante Michael Mullen, referendou essa hipótese. ;A Coreia do Norte está andando sobre uma linha fina;, comenta o especialista australiano. ;Ela não tem interesse no conflito, porque não ganharia. Quer apenas ganhar concessões da comunidade internacional.;
Em Seul, grito por revanche
Um dia depois do bombardeio à Ilha de Yeonpyeong, manifestantes foram ontem às ruas de Seul para cobrar uma resposta dura do governo sul-coreano. Enquanto o exército se prepara para manobras conjuntas com os EUA, no fim de semana, a população exige ações firmes, embora se pronuncie contra um conflito armado com o vizinho. Dezenas de pessoas se concentraram em frente ao Ministério da Defesa e queimaram retratos do presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-il, e de seu filho caçula, Kim Jong-un, provável sucessor do líder.
O ataque de terça-feira foi um dos incidentes mais sérios na península desde a Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953. Em Seul, manifestantes pediram ajuda internacional, inclusive do governo chinês, para controlar a crise. ;A China deve deixar de proteger a Coreia do Norte e somar-se à comunidade internacional;, afirmou Park Chan-Sung, organizador da manifestação.
Para o ministro da Defesa, Kim Tae-young, apesar de o governo do norte afirmar que o ataque foi uma media de autodefesa, o episódio foi na verdade uma clara demonstração de força do regime comunista. ;Depois da revelação de seu programa de enriquecimento de urânio, a Coreia do Norte executou este ataque para dar a Kim Jong-un o status de um líder poderoso;, declarou o ministro à imprensa local.
Em Yeonpyeong, os moradores se recuperavam do susto depois de terem sido bombardeados alvo de 50 projéteis, na manhã anterior. Foram encontrados nos escombros os corpos de dois civis, que se somaram aos de dois fuzileiros navais mortos durante o ataque. Kim Kil-soo, marinheiro de 51 anos, estava em um dormitório de pescadores quando as explosões começaram. ;Ficamos chocados e completamente perdidos. Nesse momento, realmente acreditei que uma guerra havia começado;, contou.
A ilha sul-coreana, localizada no Mar Amarelo, fica ao sul da linha de fronteira decretada pelas Nações Unidas depois da guerra, mas se encontra ao norte da linha divisória reivindicada pelo regime de Pyongyang. A área já registrou graves incidentes navais em outros anos, e no próximo domingo será palco de um exercício militar conjunto das tropas sul-coreanas e americanas. Muitos moradores resolveram deixar Yeonpyeong em busca de segurança, enquanto outros correram aos supermercados para estocar alimentos. (TS)