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Acidente Rio-Paris: Air France acusa a Airbus e a Thales

Agência France-Presse
postado em 26/11/2010 14:32
Paris - A Air France eximiu-se de culpa diante da justiça pelo acidente com o voo 447, que fazia a rota Rio-Paris, no qual morreram 228 pessoas em 2009. A empresa acusou indiretamente os fabricantes Airbus e Thales por falhas, de acordo com uma fonte próxima às investigações.

As especulações sobre a causa do acidente centralizam-se num possível congelamento dos sensores de velocidade da aeronave, a sonda Pitot, que teriam apresentado leituras inconsistentes.

"Nenhuma quebra das normas por parte da Air France pode ser apontada", anunciou a companhia aérea em comunicado, detalhando os acontecimentos que precederam o acidente, em junho, do A330-200, que seguia do Rio de Janeiro para Paris.

A empresa também indicou que um memorando de 15 páginas, ao qual a AFP teve acesso, foi "recentemente" entregue à magistrada Sylvie Zimmermann em Paris e a especialistas envolvidos na investigação.

O ministro dos Transportes francês declarou na quinta-feira que uma nova busca pelas caixas-pretas da aeronave será iniciada em fevereiro de 2011.

Em relatórios anteriores, os investigadores do caso haviam apontado que as sondas de velocidade Pitot do avião, fabricados pela francesa Thales, estava fazendo leituras errôneas, mas estimaram que isso não deve ter sido a causa isolada da tragédia.

Uma série de mensagens automáticas incongruentes foram emitidas pelo computador de bordo pouco antes da aeronave desaparecer dos radares.

Equipes de bordo voando em aviões da Airbus em vários pontos do mundo já vinham relatando anomalias com as sondas, antes do acidente com o Airbus da Air France - que alega ter, na época, começado a buscar soluções para o problema.

"A análise cronológica mostra que a Air France manteve-se ativa na tentativa de resolver os problemas ligados ao mau funcionamento das sondas Pitot", destaca o documento da empresa francesa.

"A Airbus e a Thales enxergaram estes eventos como menores, e sem potencial para consequências catastróficas", completa.

E afirma: "é impossível estabelecer com certeza uma relação de causa e efeito entre o mau funcionamento das sondas Pitot e o acidente" com o AF447.

A Air France indica ainda ter alertado a Airbus várias vezes sobre uma série de incidentes com as sondas da Thales.

A associação das famílias das vítimas, dirigida por Jean-Baptiste Audousset, disse à AFP que o memorando mostra que a Air France reconhece que sabia do perigo representado pelas sondas defeituosas, mas continuou a voar com elas apesar disso.

"Com este documento, a Air France confirma oficialmente que os problemas com as sondas Pitot constituíam um risco crítico para a segurança dos voos, e que estava ciente disso, uma vez que já vinha discutindo o assunto com a Airbus há algum tempo", argumentou Audousset.

O sindicato francês de pilotos Alter, por sua vez, afirmou que o memorando revela a batalha travada entre as diferentes empresas envolvidas na catástrofe do AF447, que tentam responsabilizar uma à outra pelo acidente - e, assim, evitar prejuízos com o pagamento de indenizações.

"Estamos combatendo uma companhia que se limita a dizer que fez seu trabalho ao informar as autoridades, sem ir além disso. Mas ela não trocou as sondas Pitot em questão", ressaltou Christophe Pesenti, porta-voz do sindicato.

Pesenti indicou ainda que o Alter, um dos primeiros a apontar os problemas apresentados pelas sondas Pitot, está convencido de que, "se não houvesse um mau funcionamento das Pitot, o avião teria chegado ao seu destino".

O memorando da Air France é "o começo do jogo de acusações entre os advogados" das companhias, concluiu. "Preferiríamos que a verdade fosse dita, para que um acidente como esse não volte a acontecer".

O documento da Air France também isenta de culpa todos os membros da tripulação que trabalhava no AF447.

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