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Coreia do Norte denuncia manobras navais de Washington e de Seul

Regime comunista de Pyongyang alerta para o risco de guerra iminente

postado em 27/11/2010 08:00
Explosões sacudiram ontem o território norte-coreano, em uma área próxima à ilha sul-coreana de Yeongpyeong, entre meio-dia e 15h (hora local). Para o Ministério da Defesa, em Seul, o vizinho inimigo acabava de testar seu poder de fogo. A dois dias de uma simulação naval conjunta entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul e 72 horas depois do ataque de Pyongyang, os novos supostos disparos de artilharia do regime comunista lançaram o Leste da Ásia em uma perigosa escalada de tensão.

Os militares fiéis ao ditador Kim Jong-il mais uma vez aumentaram o tom da retórica belicista e alertaram que a região está prestes a assistir a um novo conflito. ;As manobras militares dos imperialistas americanos e de suas marionetes belicistas sul-coreanas são direcionadas contra a Coreia do Norte;, alertou um comunicado oficial divulgado por Pyongyang. ;A situação na Península Coreana está à beira da guerra, em consequência do projeto imprudente destes fanáticos do gatilho;, acrescentou. O regime prometeu ;dar um banho de fogo terrível e explodir o inimigo;.

A China, único aliado comercial e político de Pyongyang, rompeu o silêncio e criticou a realização das manobras navais. ;Somos contrários a qualquer ação militar não autorizada dentro da zona econômica exclusiva da China;, declarou Hong Lei, ministro chinês das Relações Exteriores. No entanto, a imprensa sul-coreana denunciou uma espécie de ;neutralidade conciliadora; da maior potência asiática. ;A retórica ambígua de Pequim evidencia a sensação geral de que ele prefere o status quo à paz na Península Coreana;, afirmou o editorial do jornal Korea Times. ;A Rússia e outros países condenaram com prontidão o ataque. Por que a China reage de forma diferente?;, questiona o periódico.

O sul-coreano Won K. Paik, cientista político da Universidade Central de Michigan, afirma ao Correio que Jong-il tem se mostrado bastante cuidadoso em monitorar as reações de Pequim ante os exercícios coreano-americanos. ;Depois que a China mudou a posição de neutralidade, a Coreia do Norte emitiu uma nova declaração belicista, aumentando a justificativa necessária para uma escalada militar;, disse.

Apesar de garantir que Pyongyang, Washington e Seul não desejam uma guerra, Paik considera possível uma nova ofensiva armada. ;É bastante impossível que o Norte ataque o porta-aviões norte-americano USS George W. Washington, cenário que detonaria uma retaliação imediata. Porém não descarto que a Coreia do Norte se lance contra outra ilha ou contra navios sul-coreanos.;

Defesa
O americano Scott Snyder, diretor do Center for US-Korea Policy do Instituto The Asia Foundation, aposta que os exercícios conjuntos entre EUA e Coreia do Sul despertarão um foco de preocupação. ;Até que ponto Pyongyang responderá de modo agressivo? Isso vai depender de como Pequim reagirá durante as manobras;, atesta. De acordo com ele, enquanto as simulações não adquirirem um tom de provocação direta e se mantiverem a certa distância das Ilhas de Yeongpyeong, elas serão vistas como um esforço para se evitar a escalada do conflito.

Segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, a Coreia do Sul planeja aumentar os gastos com a defesa. Fontes do governo de Seul afirmaram que US$ 1,23 bilhão foram separados para a compra de canhões de artilharia K-9 e caças F-15K, em 2011. O setor também sofreu ontem uma reestruturação política, depois da renúncia do ministro Kim Tae-young. O general Kim Kwan-jin, ex-chefe do Estado-Maior, assumiu a pasta.

ARTIGO
Uma crise conveniente

Por Kongdan Oh

As ameaças da Coreia do Norte de que a Península Coreana está à beira da guerra são típicas do regime. Desde a assinatura do Acordo de Armistício, em 1953, a Coreia do Norte provocou o vizinho várias vezes. Algumas vezes a Coreia e os Estados Unidos realizaram exercícios militares. Os dois aliados já convidaram Pyongyang a observar os exercícios anuais, mas o regime de Kim Jong-il nunca aceitou. Dessa vez, a Coreia realizou exercícios navais no Mar Amarelo, onde a Cheonan, uma de suas corvetas, foi atacada por torpedos norte-coreanos. É muito natural que Seul realize testes navais para se preparar ante a possibilidade de outros conflitos ou ataques. Foi a Coreia do Norte quem iniciou a agressão, ao disparar sua artilharia contra a ilha sul-coreana.

Pyongyang jamais retaliou um exercício militar dos dois aliados. Os norte-coreanos sempre alvejam a Coreia do Sul, o que é bem ruim, porque Seul os ajudou com mais de US$ 1 bilhão nos últimos 10 anos. A Coreia do Norte sabe que os EUA vão contra-atacar se forem provocados. Por isso, o regime prefere golpear Seul ; mais fraco do que Washington. Um péssimo comportamento.

A tensão continuará. Tanto os Estados Unidos quanto a Coreia do Sul levarão essa provocação e a morte de militares e civis com muito mais seriedade. Os dois aliados não pretendem agravar a situação, mas a Coreia do Norte tem mostrado tendência a criar mais tensão. Sem uma crise externa, Jong-il terá dificuldades para controlar sua sociedade. A população norte-coreana está cada vez mais frustrada com a economia ruim e com a ausência de perspectiva de vida.

; Kongdan Oh, especialista em Leste da Ásia pelo Brookings Institution (em Washington), é sul-coreana e filha de norte-coreanos

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