Porto Príncipe ; Um dia antes das cruciais eleições presidenciais no Haiti, permaneciam as dúvidas sobre a organização do pleito num país ameaçado pela violência e por suspeitas de fraude, em meio a uma epidemia de cólera que ainda está longe de ser controlada.
Os eleitores escolherão neste domingo (28/11) entre 18 candidatos o sucessor do presidente René Preval. Além disso, deverão eleger 11 de 30 senadores e 99 membros da Câmara de Deputados.
Centenas de pessoas se reuniram neste sábado (27/11) em frente à delegacia de Petion Ville, no centro de Porto Príncipe, para obter a "cédula nacional de identidade" que lhes permitirá votar no domingo.
"Espero conseguir a cédula. Votar é o meu dever. É para ajudar o meu país, após o cólera e o terremoto. Ainda não sei em quem votar. Verei amanhã", disse Josué Phanon, de 19 anos, que votará pela primeira vez.
O próximo presidente assumirá o comando do país mais pobre das Américas: 80% dos 10 milhões de habitantes vivem com menos de US$ 2 diários.
Segundo as últimas consultas, os favoritos a disputar a presidência entre 18 candidatos são o governista Jude Célestin, 48 anos, e Mirlande Manigat, 70, ex-primeira dama por alguns meses em 1988, sob a presidência de seu marido, Leslie Manigat, deposto por um golpe militar. Em terceiro lugar aparece Michel Martelly, 49, um cantor popular, que escapou de atentado neste sábado em Cayes, no sul do país.
[SAIBAMAIS]Pesquisas de opinião e analistas preveem que não haverá vencedor claro nas eleições que consiga a maioria necessária de mais de 50% dos votos, indicando que será preciso realizar um segundo turno em 16 de janeiro.
O jornal Le Nouvelliste intitulou em sua capa deste sábado: "Boas eleições a todos", acrescentando que espera que o pleito consiga abrir um novo capítulo na história do país, após o terremoto devastador de 12 de janeiro, que deixou 250 mil mortos.
"Buscamos uma mudança de pessoal, uma renovação de ambições, o desejo de fazer as coisas de outra forma. É tudo o que desejamos para começar", destacou o jornal.
País devastado
As eleições acontecem em meio a uma epidemia de cólera, que deixou 1.648 mortos e meses depois de um terremoto devastador de 7 graus na escala Richter, que matou 250 mil pessoas.
Os recentes confrontos entre manifestantes e forças de paz da ONU em Porto Príncipe e a cidade de Cap Haitien (norte), agravaram a situação no país, que tem muitos hospitais saturados e mais de um milhão de pessoas vivendo em acampamentos. Muitos haitianos acreditam que as forças nepalesas das Nações Unidas foram as responsáveis por importar o vírus.
Atentado
Pelo menos uma pessoa morreu e várias ficaram feridas durante comício, em ataque destinado ao candidato Michel Martelly.
Em Beaumont, pequena cidade do sudoeste do Haiti, duas pessoas morreram em um confronto com pedras e garrafas entre os simpatizantes de Celestin e os de outro candidato, Charles Henri Baker.
Michel Martelly e Mirlande Manigat voltaram a expressar suspeitas de fraude durante as eleições para favorecer Celestin.
No domingo, 4.714.112 eleitores estão convocados a votar em 11.181 seções eleitorais, que ficarão abertas das 6h às 16h.