postado em 28/11/2010 09:16
O fluminense Carlos Gorito, de 24 anos, sabe que por trás da atmosfera de segurança presente nas ruas de Seul existe o temor de uma guerra. ;Ainda sinto menos medo do que teria se estivesse no Rio de Janeiro por esses dias;, afirma ao Correio o bacharel em relações internacionais que, desde agosto passado, faz um curso de MBA na capital da Coreia do Sul. Ele estranha a forma com que as emissoras de TV locais começaram ontem a abordar a crise na Península Coreana ; até então, algo que não assustava a população. ;Pela primeira vez, a televisão falou muito sobre os armamentos dos Estados Unidos e da Coreia do Norte. Também explicou como encontrar o abrigo mais próximo de casa e o que fazer, em caso de ataque;, relata. Carlos não se lembra de ter visto esse tipo de abordagem nem mesmo durante os testes nucleares de Pyongyang, em 2009.Do outro lado da fronteira, a cerca de 30km de Seul, a Coreia do Norte prometeu ;atacar sem piedade;, caso seu espaço soberano seja violado durante os exercícios de batalha naval realizados a partir de hoje por Washington e Seul. ;Se os Estados Unidos trouxerem finalmente seu porta-aviões (USS George Washinton) para o Mar Amarelo, ninguém pode prever as consequências;, advertiu o regime comunista, por meio de um comunicado divulgado pela agência oficial KCNA.
A mídia sul-coreana deu grande destaque ontem ao funeral dos dois infantes da Marinha mortos por disparos de artilharia norte-coreana, na Ilha de Yeongpyeong, na terça-feira passada. A cerimônia contou com a presença de dirigentes políticos. Por sua vez, militares prometeram uma resposta à agressão. ;Nós, com certeza, vingaremos vossas mortes;, declarou Yoo Nak-joon, chefe do Estado-Maior da Marinha, ao olhar as fotos dos dois marinheiros mortos. ;É preciso responder rápida e firmemente à atual situação de crise (com Pyongyang), devolvendo os golpes multiplicados (no caso de um novo ataque);, afirmou o novo ministro da Defesa sul-coreano, Kim Kwan-jin, em entrevista ao jornal conservador Chosun Ilbo.
A mesma sede de vingança começa a tomar conta da população. No centro de Seul, manifestantes rasgaram a bandeira da Coreia do Norte, enquanto exigiam um contra-ataque. Diante da sede do Ministério da Defesa, a polícia entrou em choque com ex-combatentes que reclamavam uma indenização por terem se engajado em um duro programa de treinamento voltado a uma guerra de guerrilha com os vizinhos. Os agentes de segurança precisaram usar extintores de incêndio para conter o protesto. Uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal The Korea Times revela que 45% dos sul-coreanos querem uma ;resposta forte; de seu governo contra Pyongyang.
;É muito natural que o povo queira uma retaliação;, disse ao Correio a sul-coreana Kongdan Oh, especialista em leste da Ásia pelo Brookings Institution (em Washington) e filha de norte-coreanos. ;No momento em que Seul tentava criar uma coexistência pacífica com o governo de Kim Jong-il, fornecendo-lhe comida, remédios e fertilizantes, sofreu a ofensiva;, afirma. Kongdan lembra que, durante os últimos 60 anos, a Coreia do Norte assassinou líderes políticos do Sul, cometeu terrorismo contra a população civil e várias agressões. ;Seul não retaliou por temer uma guerra. Agora, civis e militares estão fartos;, concluiu.
Eu acho...
;No caso de uma guerra, a escala de destruição seria quase inimaginável. Mais de 20 milhões de sul-coreanos vivem na região de Seul, a 30km da Zona Desmilitarizada. A Coreia do Norte tem centenas de artilharias de alto poder. Ao mesmo tempo, o regime enfrentaria não apenas as tropas da Coreia do Sul, mas 28 mil norte-americanos estacionados no vale de Yeojungboo;
Won K. Paik, sul-coreano, professor de ciência política da Universidade Central de Michigan