Agência France-Presse
postado em 01/12/2010 14:13
A África do Sul, criticada há tempos pelo adiamento da luta contra a Aids, distribui hoje tratamento antirretroviral (ARV) a um milhão de soropositivos, o que representa o mais importante programa do tipo no mundo."Mais de 200 mil pacientes foram colocados em tratamento com antirretrovirais desde abril, isso aumenta o total de pessoas sob cuidados para cerca de um milhão", declarou nesta quarta-feira o vice-presidente Kgalema Motlanthe por ocasião do Dia Mundial de Luta contra Aids.
Essa aceleração do programa foi possível graças ao aumento do número de instituições credenciadas para distribuir os ARV e à formação de mais enfermeiros, explicou durante uma cerimônia organizada na cidade de Driefontein (nordeste).
Por volta de 1,6 milhão de pessoas precisam de remédios contra o vírus HIV na África do Sul, uma vez que o nível de suas células imunológicas atingiu um patamar muito baixo. As autoridades esperam colocar 80% destas pessoas em tratamento até o fim de 2011.
"É importante notar que, mesmo se nosso programa de tratamento continuar a expandir, a prevenção segue o pilar de nossa estratégia de combate", destacou o vice-presidente.
O chefe de Estado Jacob Zuma anunciou em abril um plano de ação para que 15 dos 48 milhões de sul-africanos se submetessem voluntariamente a um teste de detecção da Aids até junho de 2011.
Desde então, "4,68 milhões de pessoas fizeram o teste e cerca de 800 mil foram identificadas como portadoras do vírus", ou seja, um aumento de 500% da taxa de contágio em relação a 2009, anunciou Motlanthe.
A África do Sul, que possuiu um sexto dos portadores do vírus do mundo todo, o que quer dizer 5,6 milhões de soropositivos, sofreu há muito tempo com pontos de vista controversos do ex-presidente Thabo Mbeki (1999-2008) sobre a Aids.
O ex-chefe de Estado havia colocado em dúvida a ligação entre o vírus HIV e o desenvolvimento da Aids. Sem estar convencido da importânica dos ARVs, seu governo encorajou por muito tempo um modo de vida saudável (principalmente rico em legumes) ao invés do uso de medicamentos.
Segundo um estudo da Universidade de Harvard publicado em 2009, 365 mil pessoas morreram entre 2000 e 2005 na África do Sul por não ter recebido medicamentos adequados.
Desde sua saída, as autoridades trabalham em conjunto com atores da sociedade civil (associações, líderes tradicionais, pesquisadores, agências internacionais, etc). Nesta quarta-feira, inúmeras iniciativas ilustraram esta nova mobilização.
Seis novos centros de distribuição de antirretrovirais foram inaugurados em Johannesburgo. Uma passeata contra a Aids ocorreu em Newcastle, na província de KwaZulu-Natal, a mais afetada do país; e os eleitos da província do North West conversaram com jovens sobre a doença.
Nas "townships" (favelas) de Langa, perto da Cidade do Cabo (sudoeste), uma clínica móvel possibilitou que dezenas de pessoas fizessem o teste. "Quero saber o que há dentro do meu corpo", contou uma mulher de 56 anos que fazia o exame pela primeira vez.
Em Driefontein, o vice-presidente e o ministro da Saúde Aaron Motsoaledi visitaram famílias devastadas pelo vírus. Uma avó, que cuida de sua neta soropositiva desde a morte de seus pais, explicou as dificuldades enfrentadas.
"Dar os medicamentos continua uma luta porque não temos nem o que comer direito" e os remédios antirretrovirais devem ser ingeridos junto com alimentos, disse, sob anonimato. "Hoje, ela não tomou porque acabou o saco de farinha de milho".