postado em 04/12/2010 08:00
Julian Assange tornou-se sinônimo de segredos violados. O homem que expôs os telegramas do Departamento de Estado norte-americano e provocou um escândalo mundial também é foragido da Justiça. O ex-hacker australiano é acusado de estupro, assédio sexual e coerção ilegal. Nem por isso se mantém isolado, distante do mundo. O fundador do polêmico site WikiLeaks participou de um chat (bate-papo) pela internet, a convite do jornal britânico The Guardian. Assange respondeu a apenas 15 perguntas dos internautas e destacou, ainda que em tom misterioso, a importância das fontes do WikiLeaks. ;Nos últimos quatro anos, uma de nossas metas tem sido endeusar a fonte, que leva os riscos reais em quase todas as divulgações jornalísticas. Sem esses esforços, os jornalistas não seriam nada;, comentou. ;Se realmente for o caso, como o alegado pelo Pentágono, de que o jovem soldado Bradley Manning está por trás de nossas recentes revelações, então ele, sem dúvida, é um herói sem paralelos.;O fundador do WikiLeaks foi questionado por outro internauta sobre se não divulgaria a identidade de informantes. A resposta foi evasiva. De acordo com Assange, o site tem uma história de quatro anos de publicações. ;Durante esse tempo, não houve qualquer alegação crível, mesmo por parte de organizações como o Pentágono, de que uma única pessoa tenha sofrido danos como resultado de nossas atividades;, garantiu, afirmando não esperar nenhuma mudança nesse sentido.
Julian Assange reconhece o impacto global do site. Ele começou a ter essa percepção em 2007, quando os dados divulgados por sua equipe provocaram uma reviravolta nas eleições gerais do Quênia. ;Eu sempre acreditei que o WikiLeaks, enquanto um conceito, realizaria um papel global. Imaginei que levaria dois anos, em vez de quatro, para sermos reconhecidos por outros;, escreveu o ex-hacker, admitindo que o site cumpre com pequeno atraso o cronograma esperado. Ele também confirmou ter recebido ameaças de morte. ;As ameaças contra nossas vidas são uma questão de registro público; entretanto, estamos tomando as precauções apropriadas, enquanto lidamos com uma superpotência.;
Para preservar os 250 mil documentos secretos da diplomacia americana, Assange explicou que desde 2007 o WikiLeaks tem deliberadamente colocado alguns de seus servidores em jurisdições nas quais haja suspeita de deficit de liberdade de expressão. O objetivo, segundo ele, é separar a retórica da realidade. ;A Amazon foi um desses casos;, contou, referindo-se ao site de comércio eletrônico. Ontem, o WikiLeaks voltou a funcionar em novo endereço, baseado na Suíça ; wikileaks.ch ;, seis horas após o domínio original (wikileaks.org) ter sido tirado do ar pelo provedor norte-americano EveryDNS.net.
O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, disse ontem que os documentos revelados por Assange mostram o ;cinismo; da política externa norte-americana. ;Não somos paranoicos. Não atrelamos as relações Rússia-EUA a nenhum vazamento (de dados);, declarou o chefe de Estado. ;Elas (as informações) mostram a extensão do cinismo dessas avaliações, desses julgamentos, que prevalecem sobre vários aspectos da política externa do governo ; e, neste caso, estou falando do Estados Unidos.;
MAIS SEGREDOS
Novas revelações do WikiLeaks:
Afeganistão
Autoridades militares americanas e afegãs, além do próprio presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, criticaram a atuação das forças britânicas na província de Helmand (sul) e acusaram os soldados de ;criar desordem;. O documento cita a ;falta de esforço; dos militares. Karzai é chamado de ;paranoico; e ;corrupto;
México
Um telegrama afirma que o Exército mexicano fracassa em sua luta contra os cartéis de drogas. E elogia o governo de Felipe Calderón pelo ;comprometimento sem precedentes; em combater as gangues. No entanto, sustenta que a campanha contra a violência está dificultada pela ;corrupção oficial disseminada; e pela falta de coordenação
Catar
O país do Golfo Pérsico é descrito como ;o pior; da região em matéria de antiterrorismo. ;O serviço de segurança foi hesitante em agir contra terroristas conhecidos, por causa da preocupação em parecer alinhado com os Estados Unidos e despertar represálias;