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Irã anuncia que é autossuficiente na produção de urânio enriquecido

Agência France-Presse
postado em 05/12/2010 14:58
TEERÃ - O Irã produziu seu primeiro lote de concentrado de urânio (yellowcake), que serve de base para a produção de urânio enriquecido, a partir de um mineral extraído de uma de suas minas no sul do país, declarou neste domingo o chefe do programa nuclear iraniano Alí Akbar Salehi.

Este anúncio acontece quando o Irã e o grupo de seis potências se reúnem a partir desta segunda-feira, em Genebra, para reiniciar as negociações sobre o controvertido programa nuclear iraniano.

"O Ocidente achou que teríamos problemas com este tipo de matéria-prima, mas hoje dispomos do primeiro lote de ;yellowcake; da mina de Gachin", afirmou Salehi à televisão nacional.

Até agora, o ;yellowcake; utilizado pelo Irã em sua cadeia de produção de urânio enriquecido era importado, segundo Salehi, sem dar maiores detalhes.

O ;yellowcake;, pó de concentrado de urânio, é utilizado para produzir gás de hexafluoreto de urânio (UF-6), que é depois injetado em centrífugas que produzem urânio enriquecido.

O anúncio feito por Teerã é preocupante, afirmou a Casa Branca.

"Este anúncio não é uma surpresa", afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Hammer, destacando que "isso questiona ainda mais as intenções do Irã e gera novas preocupações de que o Irã deverá responder à inquietudes da comunidade internacional".

O "Grupo dos 5%2b1" (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha, mais a Alemanha) e o Irã se reúne a partir desta segunda, em Genebra, para retomar as negociações estancadas há 14 meses, em um ambiente também tenso pelos atentados contra os cientistas iranianos e as recentes revelações do site Wikileaks.

Depois de mais de um ano de suspensão, a reunião colocará em teste, segundo os especialista, a vontade de Teerã em negociar realmente sobre seu programa nuclear.

"Esta reunião é muito importante não porque vai dar resultados instantâneos, e sim porque esperamos reintegrar o Irã no processo de negociações", afirmou uma fonte europeia.

A União Europeia (UE), intermediária das grandes potências, não espera grandes resultados. A UE não esquece que, numa reunião anterior, em 2009, o Irã concordou com o princípio de enriquecer seu urânio no exterior, o que jamais cumpriu.

"Genebra será o ponto de partida de um processo", explicou a porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.

De qualquer maneira, a situação é delicada, pois o Irã rejeita o programa dos ocidentais e considera que estes são responsáveis pelos atentados contra dois especialistas de seu programa nuclear.

Furioso, o presidente Mahmud Ahmadinejad insistiu que o Irã jamais renunciará ao enriquecimento de urânio e que esta questão não é negociável.

E, para complicar ainda mais, acontece o anúncio deste domingo de que o Irã se tornou autossuficiente na produção de yellowcake.

Por outro lado, as recentes revelações do Wikileaks geraram ainda mais tensão, ao divulgar a preocupação que os vizinhos do Irã têm em relação a suas ambições nucleares.

No sábado, o Irã tentou acalmar os temores de seus vizinhos ao assegurar que jamais usará da força contra eles.

"O Irã jamais utilizou sua força contra seus vizinhos e jamais o fará, pois seus vizinhos são muçulmanos", afirmou o chefe da diplomacia iraniana, Manuchehr Mottaki, que desmentiu novamente que seu país queira dotar-se de armas nucleares.

Mottaki respondeu assim às declarações da secretária de Estado americana Hillary Clinton que, na sexta, afirmou que a preocupação dos Estados Unidos a respeito do controvertido programa nuclear iraniano era compartilhada por todos os vizinhos o Irã.

Por outro lado, Mottaki classificou de passo adiante a declaração de sua colega americana, segundo a qual o Irã poderá, uma vez esclareça suas intenções, enriquecer urânio com consentimento das grandes potências.

"O Irã considera estas declarações um passo adiante", declarou o ministro iraniano em coletiva de imprensa à margem do fórum "Diálogo de Manama".

"Mas estas palavras devem ser seguidas por atos", ressaltou.

Os analistas são muito céticos quanto ao resultado dessas conversas em Genebra.

Para Mark Fitzpatrick, do International Institute for Strategic Studies, é pouco provável que se chegue a um acordo durante essa sessão de negociações.

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