postado em 10/12/2010 08:10
;Ó pássaro da manhã. Canta, infeliz, e me recorda novamente de minha dor. Quebre essa gaiola e vire-a de cabeça para baixo.; A tradicional canção persa, do iraniano Morge Sahar, bem que poderia expressar a dor de 12 mulheres e três homens que aguardam a morte por lapidação em prisões do Irã. Uma delas, a advogada Sakineh Mohammadi Ashtiani, viu sua gaiola surpreendentemente se quebrar recentemente, de acordo com a ativista Mina Ahadi ; fundadora e presidente do Comitê Internacional contra o Apedrejamento. ;Recebemos do Irã a informação de que Sakineh, seu filho e seu advogado estão livres.Esperamos a confirmação. Aparentemente, esta noite há um programa a ser exibido na TV e aí saberemos 100%. Mas, sim, ouvimos que está livre;, admitiu Ahadi. Viúva e mãe de dois filhos, Sakineh permanecia detida desde 2006 na prisão de Tabriz (noroeste), sentenciada a ser apedrejada até a morte, sob a acusação de ;ter mantido um relacionamento ilícito fora do casamento;. Desde então, foram 198 chibatadas e uma nova condenação pelo assassinato do próprio marido.
Fontes ligadas aos direitos humanos revelaram ao Correio que a mulher de 43 anos teria sido libertada na noite de quarta-feira passada. A escritora iraniana Marina Nemat, ex-sentenciada à morte por fuzilamento em Teerã, comemorou a notícia, mas manteve-se reticente. ;Há boatos de que ela não teria sido solta;, comentou. Marina contou ter recebido a informação da libertação por parte de amigos e de contatos no Irã. Ainda não consegui falar com ninguém que tivesse entrado em contato com ela, mas uma foto recente sua e do filho, em sua própria casa, circula pela internet;, contou.
Marina acredita que a própria Sakineh desconhece as razões por trás de sua anistia. ;A pressão internacional foi o principal motivo para sua libertação. Coletamos mais de 400 mil assinaturas em apoio a ela;, explicou, sem se esquecer de mencionar o papel do Brasil. Em 30 de julho passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apelou ao colega iraniano, Mahmud Ahmadinejad, em prol da vida da viúva e chegou a oferecer asilo à iraniana. ;Lula teve um grande efeito nesse caso;, reconheceu, em entrevista por e-mail, Mohammad Mostafaei, ex-advogado de Sakineh.
Porta-voz da organização não-governamental Iran Human Rights, o neurocientista iraniano-norueguês Mahmood Amiry-Moghaddam não escondia a satisfação ante as primeiras informações sobre a libertação.
;O sistema judicial iraniano é bastante imprevisível. Creio que o Irã impôs algumas condições para a soltura, inclusive a de ela não dar entrevistas;, disse à reportagem. ;Eu realmente espero que o caso Sakineh esteja encerrado e que não seja apenas uma libertação temporária. Mas devemos esperar mais um pouco até termos uma declaração oficial, o que deve ocorrer até amanhã.;
Amiry-Moghaddam também ressaltou o empenho do governo brasileiro como ;muito importante;. ;O presidente Lula foi o primeiro chefe de Estado a tratar pessoalmente o caso;, comentou. Até então, as críticas ao regime vinham apenas de países hostis. ;Lula deveria ser um exemplo para as nações que tenham relações com Teerã;, disse.
O neurocientista lembra que o líder brasileiro conseguiu arregimentar apoio de França, Alemanha e Itália à libertação de Sakineh. ;Espero que o próximo governo prossiga nessa linha. Um país democrático como o Brasil não pode ter ligações com o Irã sem se envolver nos direitos humanos.; Até o fechamento desta edição, o Itamaraty não havia se pronunciado sobre o tema. A chancelaria italiana divulgou nota na qual manifestou ;satisfação; e assegurou que foi ;um grande dia para os direitos humanos;. No entanto, anunciou estar ;verificando a informação;. Na França, o Quai d;Orsay, sede da chancelaria, prometeu se esforçar para confirmar a notícia.
Blogueiro
Segundo o site conservador Mashreghnews, o iraniano-canadense Hosein Derakhshan, de 35 anos, conhecido como o ;pai do blog iraniano;, foi temporariamente colocado em liberdade sob fiança. Hosein foi condenado a 19 anos de prisão por ;colaborar com Estados inimigos;, por ;propaganda contra o sistema islâmico; e por ;incentivar células contrarrevolucionárias;.
Eu acho...
;A ajuda do Brasil foi absolutamente instrumental e essencial para a libertação de Sakineh. Não teríamos obtido sucesso sem vocês! Por favor, expressem nossa gratidão ao bom povo do Brasil, aos jornalistas brasileiros e ao senhor Lula. Vocês não apenas se preocuparam com esta vida inocente, como falaram por ela e fizeram com que suas vozes fossem ouvidas. Isso exige coragem! E eu aproveito essa oportunidade para pedir a vocês, brasileiros, que jamais se esqueçam do povo do Irã e de seu sofrimento.;
Marina Nemat, escritora iraniana e ex-sentenciada à morte
;É um milagre! Estou muito surpreso, pois o governo do Irã ainda não divulgou nada na imprensa. Estou muito feliz. Creio que a pressão internacional e a exercida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a libertá-la. Essa pressão expôs o regime iraniano e forçou-o a mudar de posição. Nesse sentido, Lula teve um grande efeito no caso. Creio que o Irã decidiu usar a anistia no caso de Sakineh. Em alguns casos, as autoridades iranianas utilizem desse recurso, com o objetivo de transmitir clemência.;
Mohammad Mostafaei, ex-advogado de Sakineh