postado em 11/12/2010 08:00
O site Wikileaks revelou ontem um telegrama que compromete o governo colombiano. Um mês depois de romper relações com Equador e Venezuela, em março de 2008, a Colômbia pediu aos Estados Unidos para repassar informação de inteligência sobre os dois vizinhos. Porém, Washington rejeitou o pedido, segundo despacho confidencial enviado pela embaixada americana em Bogotá em abril do mesmo ano. A ruptura diplomática foi anunciada em Quito, depois de um bombardeio militar colombiano contra um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, principal guerrilha esquerdista do país) instalado em território equatoriano. O governo de Hugo Chávez, frequentemente acusado por Bogotá de dar abrigo às Farc, acompanhou o gesto equatoriano e ameaçou revidar qualquer ataque dentro das fronteiras venezuelanas.O general Freddy Padilla, que na época comandava as Forças Militares, reiterou ao então embaixador americano em Bogotá, William Brownfield, o pedido ;de trocar informação de inteligência sobre a Venezuela e qualquer outra que o governo dos Estados Unidos possa fornecer sobre o Equador;. Embora o diplomata tenha respondido que ;avaliaria o assunto;, ele lembrou a Padilla que, no caso dos dois países mencionados, as informações detidas pelos EUA eram ;confidenciais;.
A Colômbia teve de esperar mais de dois anos pelo restabelecimento das relações com o Equador. Apenas em novembro passado, o presidente Rafael Correa encontrou-se com o novo colega colombiano, Juan Manuel Santos, que tomara posse três meses antes. Os dois decidiram ;recuperar totalmente; as relações bilaterais.
Na conversa com o embaixador americano, o general Padilla teria se referido também às negociações sobre um acordo com os EUA, pelo qual militares americanos teriam acesso operacional a bases em território colombiano. O acordo, fechado no ano passado, tornou-se outro problema entre a Colômbia e os vizinhos, mas acabou rejeitado pela Corte Constitucional colombiana.
;Padilla lembrou ao embaixador que o (então) presidente (Álvaro) Uribe desejava concluir em 2008 um convênio para o uso, por parte dos Estados Unidos, da base aérea de Palanquero;, comentou Brownfield no telegrama. ;O governo da Colômbia estava consciente de que um anúncio desse tipo provocaria uma reação da Venezuela e do Equador. O governo colombiano nunca o diria publicamente, mas era precisamente isso o que procurava.;
FORTALEZA SOB A NEVE
Em um bairro elegante de Estocolmo, uma montanha coberta de neve, com uma igreja no topo, esconde um bunker antinuclear que abriga um centro de informática futurista, onde estão guardados 8 mil servidores. Dois deles pertencem ao WikiLeaks, o polêmico site que vem publicando documentos secretos ; desde o fim de novembro, o assunto são notas diplomáticas americanas.
O local é sede da Banhof, uma das empresas que desde o fim de outubro acolhem os servidores do WikiLeaks. Batizado de pionen (peônia), o abrigo foi construído no bairro de S;dermalm em meados dos anos 1940 e depois transformado em abrigo antinuclear, durante a Guerra Fria. Após ter servido de sala de exposição, o local foi adquirido há alguns anos pela Banhof, que implantou ali seu quinto centro de armazenagem de dados de informática.
;Estamos muito bem protegidos contra ataques físicos, mas não é isso que nos preocupa. A ameaça real pode ser jurídica e, mais provavelmente ainda, os ciberataques;, destacou o dono e fundador da Banhof, Jon Karlung. ;Até agora, não sofremos nenhum ataque direto. Nós observamos efeitos ligados a outros ataques, mas nenhum visando nossa instalação ou os serviços relacionados;, explicou, lembrando que o site tem outros servidores espalhados pelo mundo.
Assange
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, preso em Londres, foi isolado ontem dos outros detentos, ;para a própria segurança;. Ele espera pela conclusão do processo de extradição para a Suécia, onde é acusado de estupro e abuso sexual. Segundo o jornal britânico The Guardian, alguns prisioneiros ;demonstraram elevado grau de interesse; pelo jornalista australiano, o que motivou a mudança.
Um ex-colaborador de Assange planeja criar um site concorrente. Daniel Domscheit-Berg, ex-porta-voz do WikiLeaks, diz que a nova página vai se chamar Openleaks. Funcionará como janela para fontes anônimas, e deve ser lançada nesta segunda-feira.