Agência France-Presse
postado em 11/12/2010 11:52
Mais de 190 países reunidos na Conferência do Clima da ONU, em Cancún (México), aprovaram neste sábado, com a oposição da Bolívia, um pacote de medidas para combater o aquecimento global e devolver credibilidade à negociação climática, após o fracasso de Copenhague.Em meio a gritos e aplausos emocionados, e após duas semanas de árduas reuniões, a presidente da Conferência, a chanceler mexicana Patricia Espinosa, proclamou às três da manhã a aprovação dos documentos.
A Bolívia foi o único país a se opor, argumentando a falta de ambição na luta contra o aquecimento global e a ausência das propostas realizadas pela Conferência climática dos Povos, organizada em seu país em abril.
"Nós somos representantes de um país pequeno, mas um país que tem princípios, que não vende sua soberania, que fala pelos povos do mundo, e por isso não estamos de acordo com esta decisão; não há consenso para sua adoção", afirmou o representante boliviano, Pablo Solín, em uma tentativa de bloquear a decisão.
Entretanto, Espinosa optou por adotar os acordos ao considerar que "a regra do consenso não significa a unanimidade, muito menos a possibilidade de que uma delegação possa impor um veto.
O acordo é formado por um conjunto de medidas para estimular a luta contra as mudanças climáticas.
Entre elas destacam-se a criação de um Fundo Verde para ajudar os países em desenvolvimento, um mecanismo de proteção das florestas tropicais, "fortes reduções" das emissões de CO2 e garantias de que não exista um hiato entre o primeiro e o segundo períodos do Protocolo de Kioto.
"Disse que Cancún poderia fazer acordos e Cancún fez acordos", afirmou o presidente do México, Felipe Calderón. "Foi dado um passo muito grande para reestabelecer a confiança da comunidade internacional no multilateralismo", considerou.
O processo de negociação climática viu-se gravemente desacreditado há um ano em Copenhague, após uma conferência que conseguiu produzir apenas uma declaração política sem valor jurídico que foi rejeitada por vários países, entre eles Bolívia, Cuba e Venezuela.
A atitude venezuelana neste ano foi diametralmente oposta, cooperativa e concilidadora.
Este acordo "nos enche de luz e esperança", afirmou a representante da Venezuela, Claudia Salerno, garantindo que seu país trabalhará para conciliar a postura da Bolívia.
Graças a uma formulação ampla o suficiente para acomodar todas as posições, o acordo conseguiu superar o principal obstáculo das negociações: a rejeição do Japão e da Rússia de assinar uma prolongação do Protocolo de Kioto para além de 2012.
Esse tratado é o único instrumento vinculante que compromete os países industrializados a reduzir suas emissões de carbono e sua continuidade é uma questão de princípios para os países em desenvolvimento.
O acordo também inclui a necessidade de limitar a 2; c a alta da temperatura do planeta. É a primeira vez que uma meta deste tipo aparece em um acordo das Nações Unidas
Outro dos resultados de Cancún é a criação de um Fundo Verde para financiar a adaptação e as medidas para enfrentar as mudanças climáticas pelos países mais pobres e vulneráveis, que deve chegar a 100 bilhões de dólares anuais em 2020.
Também foi aprovado um mecanismo de proteção às florestas tropicais, cujo enorme desmatamento provoca 20% das emissões de gases de efeito estufa no mundo.
Apesar de reconhecer os avanços conquistados em Cancún, as organizações ambientalistas ressaltaram a necessidade de esforços mais ambiciosos.
"Cancún conseguiu salvar o processo, mas ainda não salvou o clima", afirmou o diretor de políticas climáticas do Greenpeace, Wendel Trio, pedindo maiores esforços no futuro.
As decisões de Cancún devem constituir as fundações de um novo tratado internacional mais ambicioso para combater o aquecimento global, de preferência na próxima conferência, no final de 2011, em Durban (África do Sul).