Agência France-Presse
postado em 14/12/2010 15:58
Roma - O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, passou ileso por um crucial voto de confiança nas duas casas do Parlamento nesta terça-feira (14/12), superando uma das mais graves crises da trajetória política e evitando assim a queda e a convocação de eleições antecipadas.Berlusconi venceu por um triz, com 314 votos a favor e 311 contra, além de duas abstenções. A Câmara dos Deputados italiana tem 630 assentos.
Mais cedo, no entanto, o governo ganhou com facilidade a votação no Senado, onde goza de confortável maioria.
Milhares de manifestantes anti-Berlusconi protestaram nas principais cidades italianas. Em Roma, alguns grupos entraram em choque com a polícia, lançando sinalizadores de fumaça, garrafas e fogos de artifício. Os policiais responderam com gás lacrimogêneo.
"Resumir o que há de errado com Berlusconi daria uma lista muito longa! Mas, basicamente, ele não conseguiu lidar com a crise econômica", explicou Andrea, estudante que participava da manifestação em Roma.
Silvia, uma professora, disse: "Não vejo um futuro para os jovens no país".
A votação foi precedida por um acalorado debate nas duas casas do parlamento, incluindo uma briga entre partidários e opositores de Berlusconi, poucos minutos antes do anúncio do resultado na Câmara dos Deputados.
Mais cedo, Berlusconi demonstrou confiança na permanência do governo. Ao chegar ao Parlamento, disse que "excluía absolutamente" a demissão, exigida por ex-aliados que passaram à oposição.
A votação foi marcada por uma disputa entre os parlamentares de direita a favor e contra a confiança, em particular pela decisão de uma deputada ligada aos dissidentes de direita de apoiar o premier no último momento.
A renúncia, em novembro, de quatro membros do governo de Berlusconi, iniciou oficialmente a crise política na Itália.
Com a saída dos dissidentes do governo conservador, o primeiro-ministro perdeu o respaldo de um dos principais aliados, Gianfranco Fini, presidente da Câmara do Deputados e líder do FLI.
O atual mandato de Berlusconi, que se elegeu pela primeira vez em 1994, termina em 2013. Alguns analistas, no entanto, estimam que a Itália precisará organizar eleições parlamentares antecipadamente, devido à estreita margem de manobra do governo no Parlamento.
"Este país está cansado e quer mudanças", declarou antes da votação Pier Luigi Bersani, líder do Partido Democrático, que está à frente da oposição.
Antonio Di Pietro, ex-juiz anti-corrupção e líder do partido Itália de Valores, disse que o "império de papier-maché" de Berlusconi estava terminado.
"Vá para as Bahamas! É isto que o espera: entregar-se à justiça ou fugir", gritou Di Pietro quando Berlusconi chegou à Câmara.
Mas Fabrizio Cicchitto, líder do Partido da Liberdade de Berlusconi, disse que a história do magnata e premier de 74 anos "não acabou".
"É uma vitória de Pirro, que não garante um futuro a Berlusconi", estimou à AFP o professor de filosofia política Giacomo Marramao.
Os ministros do Interior, Roberto Maroni, e das Relações Exteriores, Franco Frattini, reconheceram que se o governo não conseguir aliar-se aos moderados de centro deverá convocar eleições antecipadas.