postado em 15/12/2010 08:00
Richard Holbrooke, enviado especial dos Estados Unidos para o Afeganistão e o Paquistão, era um dos gigantes da política externa norte-americana. A definição é do presidente Barack Obama e traduz bem o poder de um dos maiores nomes da diplomacia americana no cenário internacional. Aos 69 anos, Holbrooke morreu na noite de segunda-feira, vítima de complicações cardíacas. O falecimento do representante pode provocar um grande impacto nos planos da Casa Branca para a guerra no Afeganistão. Afinal, o problema não está apenas no número de batalhas vencidas, mas também no desenvolvimento assistencial e nas relações diplomáticas com ambos países.Conhecido pela mão firme e pelo discurso forte, Holbrooke teve uma trajetória exemplar e trabalhou em diversos governos democráticos. Ele começou a vida diplomática no Vietnã aos 21 anos e, com 35, foi nomeado pelo então presidente Jimmy Carter subsecretário de Estado para Assuntos Asiáticos. Em 1993, Bill Clinton o convidou para trabalhar na embaixada na Alemanha; depois, ocupou a Subsecretaria de Estado para Assuntos Europeus. Na época, participou incessantemente das negociações de paz para a Bósnia. Sua atuação mostrou-se um marco histórico na diplomacia americana, o que levou seu nome a ser cogitado para o Prêmio Nobel da Paz.
Homem de confiança do casal Clinton, Holbrooke foi convidado em 2009 para assumir um grande desafio, o último de sua carreira: tentar balancear a complexa relação com o Afeganistão e com o Paquistão. Obama o escolheu para ajudar a trazer estabilidade para o país que enfrentava a guerra contra o Talibã, a presença oculta da rede terrorista Al-Qaeda, um governo corrupto e um importante mercado de tráfico de drogas. A força de suas relações em ambos os países ficou clara ontem com as declarações dos governos paquistanês e afegão sobre sua morte. O presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, afirmou que a maior homenagem ao diplomata seria ;eliminar o extremismo e introduzir a paz na região;. Por sua vez, Hamid Karzai, chefe de Estado do Afeganistão, se declarou ;entristecido; com a morte súbita.
Influência
Com a ajuda da secretária de Estado, Hillary Clinton, Holbrooke convenceu Obama a enviar mais tropas para o Afeganistão e o ajudou a obter um novo orçamento para o desenvolvimento de projetos voltados à melhoria da imagem dos Estados Unidos no país. ;A situação da diplomacia americana dentro do Afeganistão é muito sensível. O governo local quer uma retirada mais acelerada e Holbrooke estava tentando fazer com que esse processo de transição final fosse mais desenvolvido;, afirma Cristina Pecequilo professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Sempre firme em suas posições, com a ajuda de fatos e, às vezes, blefes ou ameaças necessárias, o diplomata não tinha apenas a capacidade de assumir o papel de conciliador. Possuía lealdade ao presidente norte-americano. Por todas essas razões, Obama deve ter trabalho para encontrar um substituto à altura. ;Não creio que seja uma mudança de vetor na administração americana com relação ao Afeganistão, mas o sucessor precisa ter uma característica essencial: ser tão fiel a Obama quanto Holbrooke foi. Porque as estratégias do governo estavam sendo criticadas por membros do Pentágono e do Departamento de Estado. Vai ser muito difícil substituí-lo;, afirma a especialista.
NEGOCIADOR DA PAZ
O primeiro-ministro da República de Kosovo, Hashim Thaci, lamentou ontem a morte do diplomata Richard Holbrooke e homenageou o articulador do Acordo de Paz de Dayton, que pôs fim à guerra da Bósnia (1992-1995). Em mensagem enviada ao presidente Barack Obama, Thaci lamentou: ;Esta é uma imensa perda, não apenas para os Estados Unidos, mas também para todas as nações com as quais ele contribuiu para o estabelecimento da paz e da liberdade;. Do outro lado, o ex-ministro croata das Relações Exteriores Mate Granic, que participou das negociações para pôr fim à guerra, disse que o norte-americano foi ;um dos maiores diplomatas dos últimos 20 anos;.