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Prêmio Sakharov é entregue na ausência do dissidente Fariñas

Agência France-Presse
postado em 15/12/2010 17:35
Bruxelas - Uma cadeira vazia marcou nesta quarta-feira (15/12) a ausência do dissidente cubano Guillermo Fariñas na entrega do Prêmio Sakharov 2010 no Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), já que ele não obteve permissão de Havana para sair da ilha.

"Esta cadeira vazia demonstra como este prêmio é necessário", declarou o presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, na cerimônia de entrega da distinção. "Apesar de ativistas como Guillermo Fariñas serem perseguidos e presos, sua voz não pode ser silenciada: o papel do Parlamento Europeu é difundir sua voz", declarou Buzek.

Ele também lamentou que as autoridades cubanas, que até agora mantiveram um absoluto mutismo, não tenha concedido autorização ao dissidente, apesar de ter escrito na semana passada ao presidente Raúl Castro pedindo a permissão. Ele reclamou, além disso, a libertação imediata dos presos políticos cubanos.

Fariñas, de 48 anos, esperou em vão até o último momento a permissão necessária para sair de Cuba e ir para a França receber o prêmio. Em Cuba, ele declarou estar animado e que viveu como um dia a mais a entrega do prêmio.

"Foi um dia a mais em minhas atividade. Vou continuar lutando. O prêmio é um compromisso ainda mais profundo com as convicçõe e a luta que conduzi durante tantos anos", disse à AFP, explicando que se encontrava em casa, acompanhado da mãe.

Explicou que sofreu problemas telefônicos - que atribuiu à ação da polícia política -, mas que conseguiu receber ligações de parabéns de vários países.

No discurso enviado pelo vencedor do prêmio Sakharov ao Parlamento Europeu, do qual a AFP obteve uma cópia, Fariñas pediu à União Europeia (UE) que não se deixe enganar pelo regime de "comunismo selvagem" cubano e mantenha a Posição Comum que exige o avanço nos direitos humanos a Havana.

"Minha maior esperança é que não se deixem enganar pelos cantos de sereia de um cruel regime de comunismo selvagem, cuja única aspiração é que a UE suspenda a Posição Comum, um documento que exige de Havana avanços em direitos humanos e democracia", escreveu Fariñas. A mensagem foi enviada pelo dissidente ao Parlamento Europeu.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, lamentou novamente a ausência de Fariñas. "Quero felicitar Fariñas em nome de todos aqueles que lutam em Cuba por mais liberdade e direitos humanos. Lamento que não tenha sido possível (a Fariñas) viajar a Estraburgo para receber o prêmio em pessoa", afirmou.

"A UE continuará abordando o tema dos direitos humanos e, neste contexto, saúdo a recente libertação de um determinado número de presos políticos e espero que este processo leve à libertação incondicional de todos eles", ressaltou.

A entrega do prêmio a Fariñas ocorre num momento em que Ashton prepara um relatório que deve ser apresentado em janeiro aos países da União Europeia sobre uma série de contatos que mantém com Havana visando a uma possível flexibilização das relações diplomáticas.

Psicólogo e jornalista, o dissidente foi protagonista de 23 greves de fome, a pior delas este ano, durante 135 dias, pouco depois da morte, em 24 de fevereiro, de Orlando Zapata, que também protestava de forma semelhante.

Foi contemplado com o prêmio em 21 de outubro pelo Parlamento Europeu, que o concede anualmente em honra à liberdade de consciência.

Essa é a terceira vez que a Eurocâmara concede o prêmio Sakharov à dissidência cubana.

Depois de Oswaldo Payá em 2002, concedeu a láurea, três anos mais tarde, às Damas de Branco, esposas de presos políticos cubanos, que também não conseguiram viajar a Estrasburgo por falta de visto.

A entrega do Sakharov acontece cinco dias depois da cerimônia do Nobel da Paz 2010, concedido ao dissidente cubano Liu Xiaobo, que paga uma pena de prisão de 11 anos e também foi representado simbolicamente por uma cadeira vazia, já que não pôde viajar a Oslo.

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