Agência France-Presse
postado em 19/12/2010 20:07
Washington - Embora tenha sido abolida a lei americana que proibia a militares declarar sua homossexualidade, gays e lésbicas que manifestarem abertamente sua opção sexual terão que esperar vários meses até que as forças estejam prontas para recebê-los.Em meio às preocupações para manter a coesão das tropas enquanto os Estados Unidos continuam engajados nas guerras do Afeganistão e do Iraque, altos comandos do Exército americano querem avançar passo a passo para garantir uma transição suave.
O Senado americano pôs fim, no sábado, a 17 anos de uma controversa lei chamada "Don;t ask, don;t tell" (Não pergunte, não diga), que obrigava os soldados gays e lésbicas a ocultar sua opção sexual sob a ameaça de serem expulsos.
Após a votação, o secretário de Defesa, Robert Gates, assegurou que o governo trabalharia com "precaução, método, mas com resolução" para aplicar a nova medida, que permitirá aos soldados homossexuais servirem no Exército abertamente.
No entanto, este processo pode se prolongar por vários meses.
O presidente Barack Obama deve, em primeiro lugar, promulgar a lei e, em segundo, "certificar" por escrito junto ao secretário de Defesa e o chefe de Estado-maior, almirante Mike Mullen, que a aplicação das novas regras não comprometerá "o nível de preparação das Forças Armadas, sua eficácia, a coesão das unidades e o recrutamento", disse Gates.
Para preparar a integração dos soldados homossexuais às fileiras, o Pentágono previu, segundo informe difundido ao fim do mês de novembro, rever o Código militar.
Os comandantes das unidades lembrarão seus valores como profissionais e os 3.000 capelões militares analisarão as preocupações morais e religiosas.
O tempo de duração desta fase preparatória do Exército ainda não foi especificada. Quando este passo for dado, será preciso esperar ainda 60 dias até que a lei entre em vigor.
Para o almirante Mullen, a transição deve ser feita de forma "responsável e medida".
Gates alertou os soldados homossexuais a continuarem mantendo sua orientação sexual em sigilo até que a nova lei entre em vigor.
De qualquer forma, o Pentágono implantou uma moratória de fato sobre as expulsões dos soldados homossexuais desde o primeiro juízo, em meados de outubro, contra a lei "Don;t ask, don;t tell", explicou o coronel David Lapan, porta-voz do Pentágono.
Um grupo que atua em favor dos direitos dos homossexuais, o Human Rights Campaign, exigiu em comunicado, no sábado, a Barack Obama e Robert Gates para "se assegurar de que o processo se realize corretamente".
Segundo uma pesquisa feita pelo Pentágono, a "maioria" dos soldados (70%) está preparada para a chegada dos soldados que se declararem abertamente homossexuais no Exército.
Mas, em algumas unidades de combate, principalmente na dos Marines, o resultado da consulta se inverteu: entre 40% e 60% dos entrevistados viram como negativo o fim do tabu gay.
Daí vem o temor do chefe desta força, general John Amos, e de alguns altos cargos e representantes republicanos de que o fim do tabu possa prejudicar a coesão das unidades envolvidas em operações de combate e "provocar a morte" de soldados americanos.
No começo dos anos 1950, o Exército se colocou à frente do resto da sociedade americana, ao integrar minorias raciais em suas fileiras, lembraram os autores do estudo do pentágono e, no entanto, quase todos os soldados se opunham à medida na época.