postado em 21/12/2010 08:00
;O WikiLeaks será um marco divisor da geopolítica.; A previsão é de Julian Assange, o ex-hacker australiano e fundador do site que tornou públicos 250 mil documentos confidenciais do Departamento de Estado norte-americano. Processado pela Justiça sueca e alvo de frequentes ameaças de morte, ele participou nesta segunda-feira de um chat (bate-papo on-line) promovido pelo jornal espanhol El País e falou pela primeira vez à imprensa desde que obteve a liberdade provisória, na última quinta-feira. Durante a conversa, Assange condenou os apelos à sua morte, feitos inclusive por figuras públicas. ;Temos recebido centenas de ameaças específicas provenientes de soldados dos Estados Unidos. As ameaças estendem-se aos nossos advogados e aos meus filhos. No entanto, são os apelos públicos para o nosso assassinato, sequestro e execução por parte de figuras de elite da sociedade norte-americana que nos preocupam mais;, afirma, referindo-se a Marc Thessian, antigo redator dos discursos do ex-presidente norte-americano George W. Bush e Bill O;Reilly, apresentador e comentarista polêmico da rede de TV Fox.O El País perguntou a Assange que impacto atribuía à publicação dos telegramas das embaixadas norte-americanas. ;Haverá um antes e um depois do Cablegate na geopolítica mundial;, sentencia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aparece na entrevista, por ser um dos líderes que apoiou Assange. Ele agradeceu, mas afirmou que Lula só o fez porque já não deve mais nada aos EUA. ;Lula é um caso especial. Ele já vai sair do poder, isso permite que seja mais direto;, afirmou.
Sobre a detenção de nove dias em Londres, Assange revelou que foi transferido três vezes e, ao contrário dos outros presos, a cela esteve sempre fechada. Nos primeiros dias, ele esteve próximo a condenados por delitos sexuais e assassinatos de crianças. Depois, as autoridades decidiram transferi-lo para outra área da carceragem.
Mesmo sendo perseguido, Assange afirma que a organização permanece muito forte. ;Temos muito apoio, mas também recebemos vários ataques. Há dezenas de pessoas montando réplicas do site, mas esse é um processo trabalhoso. No entanto, se existe uma batalha entre o Exército americano e a preservação da história, temos que assegurar que a história vencerá;, comentou. Sobre as acusações de estupro das quais é alvo, Assange considera o assunto ;nebuloso;. ;Todo mundo já percebeu que há algo estranho neste caso;, disse.
Demissão de Obama
Na opinião de Assange, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deveria se demitir do cargo se ficar comprovado que aprovou a espionagem de diplomatas norte-americanos e de dirigentes da Organização das Nações Unidas. ;Toda a cadeia de comando por trás da ordem dada e que a aprovou deve se demitir, se os Estados Unidos quiserem ser vistos como uma nação crível, que obedece às leis. A ordem é tão séria que poderia ter chegado ao presidente para a aprovação;, afirmou Julian Assange. Assange aguarda uma nova audiência, marcada para 11 de janeiro, para responder ao pedido de extradição das autoridades suecas. Enquanto isso, ele permanece em liberdade condicional, usando dispositivos eletrônicos e tendo que se apresentar diariamente à polícia londrina.