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Alto comando militar faz lobby pelo reforço dos efetivos no Afeganistão

postado em 22/12/2010 08:00
Soldados americanos participam de operação contra os talibãs na província de Helmand, no sul afegãoBarack Obama está no meio de uma encruzilhada. De um lado, o presidente dos Estados Unidos sofre pressão do Alto Comando das Forças Armadas para enviar mais tropas ao Afeganistão. Do outro, tenta cumprir a promessa de sair de uma guerra que já matou quase 1,5 mil soldados americanos e traz prejuízo aos cofres públicos. Os EUA e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) trabalham com o horizonte de 2014 para encerrar a missão no país e iniciar a retirada. Segundo os especialistas, até lá o chefe de Estado norte-americano precisa decidir qual caminho seguir, sem deixar para trás todo o esforço feito governo para terminar com as atividades terroristas na região.

A decisão de aumentar a presença militar no Afeganistão abriria uma nova direção na guerra, que começou em 2001, no governo do republicano George W. Bush. Com o aumento das atividades da milícia extremista Talibã, nos últimos três anos, Obama se viu forçado a reforçar o contingente americano com mais 30 mil soldados, em 2009. Com isso, o efetivo dos EUA soma hoje cerca de 100 mil militares. De acordo com uma reportagem do jornal The New York Times, os comandantes militares querem expandir as operações para a fronteira com o Paquistão, perto das áreas tribais onde se acredita que esteja o foco de ações dos talibãs e da rede terrorista Al-Qaeda. A opção, considerada arriscada e rejeitada pelo governo afegão, foi desmentida por fontes da Otan.

Apesar de Obama ter aumentado o número de soldados no Afeganistão no ano passado, os chefes militares reivindicavam um reforço duas vezes maior que o enviado pelo presidente. Por isso, segundo William Allen, professor emérito de ciência política da Universidade Michigan, não é novidade a pressão do Alto Comando. ;O problema real, no entanto, não é a quantidade de soldados, mas a definição das operações. Já que o relacionamento com o Paquistão não permite o acesso livre às áreas tribais da fronteira, a potencial interrupção da capacidade organizacional da Al-Qaeda e do Talibã permanece limitada;, disse ao Correio.

Para o especialista, a divulgação do início da redução de contingente a partir de meados de 2011 e a transferência total da segurança do país para as forças afegãs em 2014 teve um efeito negativo no trabalho dos militares. ;As forças insurgentes no Afeganistão e no Paquistão estão apenas aguardando a saída dos Estados Unidos. Nossos aliados devem começar a sair em 2011, e existe uma clara pressão interna para que o presidente mantenha sua promessa. A probabilidade de o Afeganistão ficar à mercê da desordem é alta. A melhor tática é continuar a comunicar uma intenção firme de eliminar todos os vestígios das organizações terroristas;, afirma Allen.

Seguir na direção oposta e retirar as tropas do Afeganistão seria a melhor estratégia, na opinião de Doug Bandow, especialista do Cato Institute. ;Os EUA precisam reduzir sua presença, não aumentar o número de soldados, o que prolongaria o trabalho na região. Colocar mais forças no Paquistão seria uma péssima ideia. O presidente precisa manter o foco em promover um acordo negociável que deixará o futuro do Afeganistão nas mãos do povo.;

Baixas crescentes
O número de soldados estrangeiros mortos no Afeganistão em 2010 é o maior em nove anos de guerra: 702 militares perderam a vida no conflito. O total é quase o mesmo registrado nos meses mais violentos da guerra do Iraque, entre abril e junho de 2007. Neste ano, os Estados Unidos gastaram US$ 9,2 bilhões com as tropas, e o orçamento para o próximo período reservou US$ 11, 6 bilhões para a missão.

Para John Pike, diretor da organização Global Security, as consequências do conflito fazem com que a guerra seja rejeitada por 60% dos americanos. ;O povo nem sequer se lembra por que estamos lá. Mas não acredito que isso possa influenciar muito a decisão do governo de retirar as tropas. Obama precisa colocar todo foco nas operações militares e de inteligência, para impedir que o Talibã aja livremente;, sugere Pike.

Presente de Natal
Mais de 7 mil combatentes da Marinha norte-americana voltaram para casa na segunda-feira, depois de sete meses de serviço com o contingente internacional no Afeganistão. Os militares foram recebidos por familiares carregados de bandeiras americanas e gorros de Papai Noel no porto de Norfolk, no estado da Virgínia. Entre os cartazes de boas-vindas e votos de Natal havia também frases de protesto com pedidos pela retirada das tropas da região.

Al-Maliki aprovado
O Parlamento iraquiano aprovou ontem por unanimidade o novo gabinete formado pelo primeiro-ministro Nuri Al-Maliki. A decisão encerrou nove meses de crise política, iniciado com as eleições legislativas de março, durante o qual o país correu o risco de recair na onda de violência sectária entre muçulmanos xiitas (majoritários no país)e sunitas (minoritários no Iraque, porém predominantes no mundo islâmico). O novo governo, o segundo formado no país desde o restabelecimento pleno da soberania, após a invasão americana de 2003, tem um programa que prevê liberalizar a economia, desenvolver a produção petroleira e lutar contra o terrorismo.

Os parlamentares iraquianos aprovaram os 29 ministros indicados por Al-Maliki, mas alguns cargos do Executivo continuam vagos. Por isso, o primeiro-ministro ocupará interinamente as três pastas vinculadas à segurança, consideradas vitais para conter uma nova escalada de violência. Designado em 25 de novembro pelo presidente Jalal Talabani, Al-Maliki tinha prazo de 30 dias para montar o gabinete. ;A tarefa mais difícil do mundo é formar um governo de unidade nacional em um país onde há diversidade no cenário étnico, religioso e político;, disse o premiê, que é xiita.

O ministério inclui os principais grupos e comunidades do país: além de xiitas e sunitas, participam também representantes da minoria étnica curda, à qual pertence o presidente. Para isso, entre outras escolhas, Al-Maliki promoveu a titular da pasta o vice-ministro do Petróleo, Abdul Kareem Luaibi, e nomeou para cuidar das Finanças o destacado líder sunita Rafie Al-Esawi.

O ex-primeiro-ministro Iyad Allawi, um xiita de orientação laica que era o favorito dos EUA para encabeçar o novo governo, reafirmou a disposição de sua coalizão de participar do governo. O bloco Iraqiya, liderado por Allawi, foi o mais votado em março e detém a maior bancada individual no Parlamento, com duas cadeiras a mais que a coligação de Al-Maliki, mas o ex-premiê não conseguiu costurar alianças que lhe dessem a maioria necessária para chefiar o governo. ;Declaramos nosso pleno apoio a este governo;, anunciou Allawi, a quem o delicado acordo político destinou a chefia de um novo ;conselho político;, ainda com funções e atribuições pouco definidas.

;O acordo selado entre os partidos iraquianos é complexo, mas o que é crucial é que eles conseguiram passar por esse ponto por meio de negociações pacíficas, sem qualquer retorno à violência em grande escala;, disse Shadi Hamid, diretor de pesquisas do Centro Brookings Doha. Para ele, acordos de partilha do poder selados em países com o grau de fragmentação política e o histórico de violência do Iraque tendem a ser frágeis. ;Os próximos meses serão um teste crucial;, afirmou.

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