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Ex-ditador Jorge Videla assume a responsabilidade por crimes da ditadura

O ex-ditador argentino Jorge Videla assumiu a responsabilidade por crimes políticos cometidos no país entre 1976 e 1983, durante o julgamento do processo em que é acusado pelo fuzilamento de 31 presos políticos em Córdoba, no centro do país. ;Assumo plenamente as minhas responsabilidades. Meus subordinados limitaram-se a cumprir ordens;, destacou o general Videla no Tribunal de Córdoba, um dia antes da divulgação do veredito, prevista para hoje. Videla é réu no processo com 29 militares. No depoimento final, que leu pausadamente durante 49 minutos, o ex-ditador de 85 anos disse que assumirá ;sob protesto; a ;injusta condenação; que possa receber.

A Promotoria havia pedido, em novembro passado, a pena de prisão perpétua para Videla. Em 24 de março de 1976, ele comandou um golpe e instaurou uma ditadura na Argentina, que deixou 30 mil desaparecidos, de acordo com as estimativas de entidades humanitárias. ;Reclamo a honra da vitória e lamento as sequelas. Valorizo os que, com dor autêntica, choram seus seres queridos. Lamento que os direitos humanos sejam utilizados com fins políticos;, disse Videla.

Em seguida, fez várias considerações sobre o governo da presidente Cristina Kirchner. Assinalou, por exemplo, que as organizações armadas dissolvidas ;não mais precisam da violência para chegar ao poder, porque já estão no poder e, daí, tentam a instauração de um regime marxista à maneira de (Antonio) Gramsci (téorico marxista italiano);.

Jorge Videla, como comandante da ditadura, e Luciano Menéndez, 83 anos, como ex-chefe militar com jurisdição em 11 províncias, são os dois militares de mais alta patente acusados pelo assassinato de 31 presos políticos numa prisão de Córdoba.

O ex-ditador havia sido condenado à prisão perpétua num histórico julgamento dos comandantes militares, realizado em 1985. Alguns anos mais tarde, entretanto, recebeu indulto do então presidente Carlos Menem, que governou a Argentina de 1989 a 1999. O perdão foi anulado pela Corte Suprema em 2007. Desde então, foram somadas várias acusações contra Videla por crimes de lesa-humanidade, praticados durante a ditadura.

Nobel da Paz
Na área reservada ao público, familiares das vítimas, acompanhados do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, agraciado em 1980, ouviam o depoimento de Videla com gestos de desaprovação. Não houve incidentes. ;(O julgamento) é um avanço importantíssimo no direito à verdade e à justiça;, assinalou Pérez Esquivel à agência France Presse.

Em Buenos Aires, três ex-militares foram condenados ontem à prisão perpétua também por crimes cometidos durante a ditadura na base naval da cidade balneária de Mar del Plata. De acordo com o Centro de Informação Judicial (CIJ), foram sentenciados os ex-oficiais da Marinha Justo Ignacio Ortiz e Roberto Luis Pertusio, além de Alfredo Manuel Arrillaga, do Exército.

O Tribunal Oral Federal de Mar del Plata aceitou a acusação feita contra os três por ;privação ilegal da liberdade duplamente agravada e imposição de tormentos agravada;. Com esse julgamento, chega a 133 o número de réus condenados por crimes de lesa-humanidade cometidos durante a ditadura argentina.