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Natal ortodoxo sob segurança máxima no Egito após ataque que matou 21

postado em 03/01/2011 22:41
Tropa de choque diante do templo copta atacado no ano-novo: Al-Qaeda por trás da violência religiosaO Egito está em alerta para as celebrações do Natal dos cristãos ortodoxos, na próxima quinta-feira, depois do atentado que matou 21 pessoas em Alexandria na noite do ano-novo, perto de uma igreja da comunidade copta. As forças de segurança reforçaram o policiamento perto de igrejas e edifícios religiosos e intensificaram a vigilância nos portos e aeroportos. O país sofre as consequências do ataque, realizado por um camicase terrorista que poderia estar envolvido com a rede terrorista Al-Qaeda. O massacre, no entanto, ainda não foi formalmente reivindicado.

Apesar das ameaças, a tradicional missa de Natal deve ser celebrada, de acordo com o patriarca da Igreja Ortodoxa, Shenouda III. ;Não orar seria dizer que o terrorismo nos privou da celebração do nascimento de Cristo;, declarou o líder religioso, citado pela agência egípcia Al-Ahram. Os coptas celebram o feriado, tradicionalmente, na madrugada de quinta para sexta-feira, que é também o dia sagrado da semana para os muçulmanos. O reforço da segurança foi considerado necessário porque, além do risco de novos atentados, as autoridades acreditam que possam irromper conflitos entre manifestantes das duas religiões.

Os cristãos coptas representam cerca de 10% dos quase 80 milhões de egípcios, presentes em todo o país, com concentrações mais fortes no Médio Egito. Eles são na maioria ortodoxos, mas a comunidade inclui cerca de 250 mil católicos. Os fiéis pedem uma legislação mais favorável à construção de seus templos e acusam o governo de dar preferência para as mesquitas. A paralisação das obras de uma igreja, em novembro passado, deu início a confrontos violentos entre policiais e manifestantes coptas, no Cairo. O panorama se completa com a expansão constante dos movimentos islâmicos extremistas, entre eles a Irmandade Muçulmana, um fenômeno que traz consigo o acirramento dos confrontos interconfessionais.

A comunidade cristã virou alvo dos terroristas no mundo árabe islâmico depois de ter sido acusada por um grupo terrorista iraquiano, ligado a Osama bin Laden, por supostamente manter prisioneiras duas mulheres de padres coptas que teriam se convertido ao islã. A primeira represália foi um atentado contra uma catedral de Bagdá, no fim de outubro passado, com saldo de 46 mortos. O ataque contra a igreja copta na noite de revéillon foi o pior cometido no Egito desde a onda de ações contra complexos turísticos no Mar Vermelho, entre 2004 e 2006, que fez no total quase 140 mortos.

A Igreja dos Santos de Alexandria está em uma lista com cerca de 50 lugares de culto dos coptas, no Egito e em outros países da região, designados no início de dezembro como alvos por um site na internet relacionado à Al-Qaeda. Essa não foi a primeira vez que cristãos são alvo do terror no Egito. Em 6 de janeiro de 2010, seis coptas foram mortos na saída de uma missa em Nagaa Hamadi, no Alto Egito.

Em Alexandria, centenas de coptas se manifestaram na noite de domingo em frente à igreja onde ocorreu o atentado. Ontem, um grupo impediu a equipe de limpeza de começar seu trabalho, argumentando que as marcas do sangue das vítimas deveriam continuar ali, como prova da carnificina. Outros confrontos entre cristãos coptas e policiais foram registrados no Cairo no fim de semana, depois do ataque. Durante uma reunião com centenas de pessoas dentro da Catedral São Marcos, os manifestantes entraram em confronto com funcionários do governo que vinham apresentar seus pêsames, e foram recebidos a pedradas. De acordo com as autoridades, 45 policiais ficaram feridos.

Longa história
A comunidade copta do Egito é a mais numerosa e uma das mais antigas do Oriente Médio. A igreja tem 10 milhões de fiéis, divididos entre ortodoxos e uma minoria católica. A história do grupo religioso remonta ao alvorecer do cristianismo, ainda na época em que o Egito era parte do Império Romano e, mais tarde, do Império Bizantino. A palavra ;copta; tem, além disso, a mesma raiz que o termo ;egípcio;, em grego antigo. O declínio se seguiu às invasões árabes do século 7 e à islamização do país, hoje com imensa maioria de muçulmanos sunitas.

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