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Morte de governador simboliza islamismo que ganha terreno no Paquistão

Agência France-Presse
postado em 05/01/2011 14:56
O assassinato do governador da província de Punjab, uma das vozes moderadas mais reconhecidas do Paquistão, é um duro golpe para os setores liberais e mostra o avanço do pensamento islamista em todos os setores da sociedade paquistanesa, afirmaram vários analistas.

O assassinato de Salman Taseer, o crime político mais importante desde o assassinato de Benazir Bhutto em 2007, ocorreu na terça-feira em Islamabad, quando um integrante de um comando de elite encarregado de sua segurança fez 30 disparos contra ele.

Pouco depois, o assassino, Malik Mumtaz Hussain Qadri, se entregou à Justiça, confessando ter assassinado o governador porque ele se havia pronunciado a favor de uma emenda à atual lei contra a blasfêmia, à qual se opuseram grupos conservadores e movimentos religiosos.

O fato de que um policial que integra uma unidade de elite do governo possa compartilhar da ideologia de extremistas religiosos mostra até que ponto o islamismo ganhou terreno no Paquistão.

"Esta morte mostra que os extremistas não precisam fazer parte dos talibãs", mas "estão presentes em todas as partes e sob todas as aparências", noticiou na quarta-feira o jornal em inglês The News.

Nas últimas décadas, o Paquistão foi se inclinando para o islamismo.

Este processo, favorecido inicialmente pelo apoio de Islamabad, com a ajuda financeira dos Estados Unidos e da Arábia Saudita - aos mujahedines afegãos que lutavam em nome da religião contra os "infiéis" invasores soviéticos, se intensificou desde a queda do regime talibã no país vizinho.

Desde 2001, as zonas tribais no noroeste do Paquistão - que marcam a fronteira entre os dois países - se tornaram o santuário de rebeldes extremistas e seus aliados da Al-Qaeda.

Além disso, parte do poderoso exército paquistanês tem sido acusado de apoiar extremistas tanto no Afeganistão quanto na Caxemira indiana.

"Já não se pode debater racionalmente no Paquistão", disse Zafarulá Khan, diretor do Centro de Estudos Independentes para a Educação Cívica.

Atualmente a taxa de alfabetismo no Paquistão de 50% e com frequência de 40% entre as mulheres de certas regiões do noroeste.

Na falta de uma educação gratuita universal, muitas pessoas humildes se viram forçadas a enviar seus filhos a milhares de escolas corânicas (madrassas) que têm um discurso extremista.

Taseer, membro do Partido do Povo Paquistanês (PPP) atualmente no poder, havia sido um dos poucos políticos a se pronunciar a favor - junto com várias organizações de defesa dos direitos humanos - de uma emenda à lei sobre a blasfêmia, que prevê até a pena de morte como punição.

Depois das manifestações multutidinárias organizadas por setores religiosos para protestar pela modificação proposta, o PPP do premier Yusuf Raza Gilani - de tendência secular - destacou que não pensava tocar na lei.

Milhares de pessoas saíram às ruas para assistir aos funerais do governador de Punjab, mas sua morte foi saudada por alguns círculos religiosos conservadores.

Na quarta-feira, Jang, o jornal em urdu mais importante do Paquistão publicou na primeira página um chamado de 500 autoridades religiosas, instando a população a não chorar a morte de Taseer.

No dia anterior, milhares de internautas escreveram mensagens saudando o assassinato de Taseer na rede social Facebook o que, segundo muitos analistas, comprova que o islamismo ganhou partidários até nos setores mais educados da sociedade paquistanesa, o de quem tem acesso à internet.

A morte do governador "é um grave revés para as forças democráticas no Paquistão", disse o advogado da Suprema Corte e militante liberal Anees Jillani, já que "instalou o medo no seio da população e inclusive dos meios de comunicação".

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