postado em 09/01/2011 08:00
A população do sul do Sudão começa a decidir hoje, nas urnas, se quer a independência. O referendo é um marco histórico no conflito entre os muçulmanos do norte e os cristãos do sul, que passaram 46 anos em guerra civil e, apesar de um tratado de paz, não conseguiram se unir. O clima de tensão marcou a véspera da votação, para a qual foi montado um forte esquema de segurança. Observadores locais e internacionais, como o Centro Carter, a União Europeia e a Liga Árabe, estão na região para acompanhar o referendo, que pode mudar o mapa de um dos países mais extensos da África.A votação deve se estender até o dia 15. As autoridades fazem campanha para que os sudaneses compareçam às urnas logo nos dois primeiros dias. O resultado final deve ser divulgado apenas em fevereiro, mas pesquisas divulgadas no país mostraram que a independência é apoiada por 90% dos quase 4 milhões de eleitores. ;Vamos criar o país mais novo no planeta. Há muito tempo as pessoas estão esperando por essa votação;, disse Mike Ding, um dos muitos partidários da secessão, à agência de notícias espanhola EFE. Mais de 120 mil sudaneses que vivem no norte e apoiam a secessão viajaram até o sul para votar, de acordo com dados da ONU.
O governo sudanês, instalado no norte, também admite que a independência é o resultado mais provável. A preocupação das autoridades se concentra no grau de participação, no respeito às normas democráticas e em possíveis conflitos com milícias durante o pleito. Milhares de policiais foram mobilizados para reforçar a segurança nas grandes avenidas de Juba, capital do sul.
Seis pessoas foram mortas e 32 foram presas, ontem, em um ataque armado contra o exército, em uma região do sul próxima à divisa com o norte. Foram encontradas dezenas de fuzis AK-47, um lança-granadas e uma metralhadora. Para as autoridades do sul, os militantes são apoiados pelo norte para tentar impedir a votação e a independência.
A região separatista concentra grande parte da exploração petrolífera do país. Em 2005, foi assinado um acordo de paz que previa a divisão das receitas do setor, mas a população sulista queixa-se da falta de infraestrutura e da miséria, enquanto o norte investe em suas cidades. Por causa disso, as tensões e a possibilidade de uma nova guerra aumentaram nos últimos anos. O referendo sobre a separação estava previsto no tratado.
O presidente do Sudão, Omar Al-Bashir, afirmou que reconhecerá o resultado, se a votação for realizada de forma ;livre e transparente;. ;A estabilidade do sul é muito importante para nós, pois uma instabilidade pode repercutir no norte. Estamos negociando a forma de estabelecer uma união entre as duas partes, em defesa de nossos interesses em temas de segurança, política econômica e desenvolvimento;, disse em entrevista à rede de TV Al-Jazira.
Árabes inquietos
Os representantes de partidos políticos de 22 países árabes ; entre eles Jordânia, Líbano, Kuweit, Argélia, Tunísia e Iêmen ; expressaram sua ;inquietação; diante de uma possível separação no Sudão, e defenderam uma ;democracia melhor;, em vez da possível independência do sul. ;Somos contra a separação e as divisões, que são doenças nocivas para o corpo árabe;, disse um comunicado conjunto de vários participantes da 54; sessão do Congresso dos Partidos Políticos Árabes, realizada ontem em Rabat, no Marrocos. ;A Espanha evitou a divisão e a separação da região basca graças à democracia;, argumentou um participante libanês.