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Organização separatista basca anuncia cessar-fogo permanente na Espanha

Agência France-Presse
postado em 10/01/2011 09:45
Madri - A organização armada separatista basca ETA, autora de 829 mortes em mais de 40 anos de luta armada, anunciou nesta segunda-feira (10/1) um cessar-fogo permanente e geral, que, pela primeira vez em sua história, "poderá ser observado pela comunidade internacional".

"O ETA decidiu declarar um cessar-fogo permanente e de caráter geral, que pode ser verificado pela comunidade internacional", afirma o comunicado enviado ao jornal basco Gara, habitual canal de comunicação da organização separatista basca.

"Este é o compromisso firme do ETA com um processo de solução definitivo e com o final do confronto armado", acrescenta a nota publicada em inglês, espanhol e euskera, acompanhada por um áudio e um vídeo no qual aparecem três ativistas encapuzados lendo o comunicado.

O anúncio desta segunda-feira supera a suspensão das ações armadas, como divulgado em 5 de setembro passado, quando o grupo assegurou que "há alguns meses tomou a decisão de não realizar ações armadas ofensivas".

O ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, afirmou nesta segunda-feira que o anúncio de cessar-fogo permanente do ETA não é o que a sociedade espanhola esperava.

"Se me perguntam se isto é o que a sociedade espanhola esperava: eu digo que não. Dito de outra maneira, esta é uma má notícia? Não é, mas esta não é a notícia", afirmou o ministro em uma coletiva de imprensa após o anúncio do ETA.

"Todos os governos da democracia, todos os partidos políticos, insistimos que o único comunicado que queremos ler é aquele em que o ETA declare o fim e o faça de maneira irreversível e definitiva e é evidente que hoje, mais uma vez, não fez o que os partidos democráticos esperam", disse Rubalcaba.

Entretanto, o ministro reconheceu que "se vocês me perguntam, ;você está mais tranquilo hoje do que ontem?;, honestamente eu diria que sim".

Por sua vez, o chefe do governo espanhol, José Luiz Rodriguéz Zapatero, havia afirmado no dia 30 de dezembro que "só esperamos do ETA o abandono definitivo da violência, o cessar total e absoluto para sempre", acrescentando que "já não valem palavras gastas".

O ETA, cujo último atentado em solo espanhol remonta há 17 meses, manteve desde então esta trégua, que parece ser reforçada agora em uma decisão unilateral, pela primeira vez, fora de um contexto de negociação com o governo da Espanha, que se nega a entrar em discussões com a organização armada basca.

Responsável pela morte de 829 pessoas em mais de 40 anos de violência em sua luta pela independência do País Basco, desde 1969, quando cometeu seu primeiro atentado mortal, o ETA se encontra há vários meses sob a pressão de seu ilegalizado braço político, o Batasuna, para que anuncie um cessar-fogo.

O Batasuna, ilegalizado em 2003 pela justiça espanhola pela ligação com o ETA, confia que um cessar-fogo verificável internacionalmente o ajudará a voltar à legalidade para poder participar nas eleições locais deste ano.

O "recurso à violência armada" não é compatível com o separatismo, havia ressaltado em 17 de outubro em uma entrevista ao jornal El País o ex-porta-voz do Batasuna, Arnaldo Otegi, convocando o ETA a "decretar uma trégua permanente" e acrescentando que, caso os atentados sejam retomados, o Batasuna "se oporá a tais ações".

A organização armada basca se refere no comunicado aos mediadores internacionais e à "multidão de agentes políticos e sociais bascos", que nos últimos meses lutaram pela eventual legalização do Batasuna, lembrando "a necessidade de uma solução justa e democrática ao secular conflito político" no País Basco.

"A solução chegará através de um processo democrático que tenha a vontade do povo basco como maior referência e o diálogo e a negociação como instrumentos", afirma o ETA, que volta a colocar o "direito à autodeterminação" no núcleo da negociação.

O ETA, que reitera seu pedido à Espanha e França para que "abandonem para sempre as medidas repressoras", garante que devem ser os agentes políticos e sociais bascos os que devem chegar a acordos contemplando todas as possibilidades, incluindo a independência, para que depois o povo basco decida e que todas as autoridades envolvidas aceitem esta decisão.

"O ETA não cederá em seu esforço e luta para impulsionar e levar ao fim o processo democrático, até alcançar uma verdadeira situação democrática em Euskal Herria", conclui o comunicado, no qual em nenhum momento é feita menção sobre uma eventual entrega de arsenais.

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