Porto Príncipe - Na véspera do primeiro aniversário do terremoto de 2010, governantes e habitantes do Haiti começaram nesta terça-feira (11/1) dois dias de cerimônias em memória das 220.000 pessoas que perderam a vida no devastador tremor de 12 de janeiro de 2010, uma catástrofe que o país está muito longe de superar.
Estas cerimônias foram iniciadas com a visita nesta terça de altos funcionários a uma vala comum situada na periferia da capital Porto Príncipe, onde repousam inúmeras vítimas do tremor. Também será colocada a primeira pedra de um futuro conjunto habitacional no centro da capital, onde milhares de pessoas continuavam vivendo em acampamentos improvisados.
O ex-presidente americano Bill Clinton, muito envolvido nos esforços de reconstrução do país, é esperado nesta terça-feira para participar nos eventos. Na quarta será realizada missa ao ar livre onde ficava a catedral destruída pelo terremoto, cujos escombros ainda não foram retirados.
Às 16h53 local, no exato momento em que se registrou o terremoto, os haitianos farão um minuto de silêncio.
Doze meses depois da catástrofe, o país mais pobre da América continua sem perspectivas de reconstrução. Cerca de 800.000 refugiados ainda moram em acampamentos improvisados e sem condições sanitárias.
O país está submerso numa crise econômica e suas infraestruturas estão destruídas. Também é preciso acrescentar uma epidemia de cólera desatada em meados de outubro e que, segundo os últimos dados do ministério da Saúde Pública, provocou a morte de 3.759 pessoas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença ainda não alcançou seu pico.
"Haverá sem dúvida muito mais casos de cólera no Haiti, isso é evidente", afirmou Fadela Chaib, porta-voz da OMS, acrescentando, no entanto, que menos pessoas morrerão graças aos esforços de contenção da epidemia. Além disso, Chaib informou que a taxa de mortalidade diminuiu sensivelmente, a 2,2% - contra os 9% registrados no fim do ano passado.
A OMS considera que a doença está sob controle quando sua taxa de mortalidade é inferior a 1%.Para o escritório de coordenação dos assuntos humanitários da ONU, por sua vez, a "prioridade absoluta" das agências humanitárias da ONU em 2011 será acelerar a recuperação do país. "É preciso acelerar os esforços de recuperação. Esta será a prioridade absoluta em 2011", explicou a porta-voz Elisabeth Byrs.
O processo deve durar meses e inclusive anos, dada a magnitude do trabalho em campo, admitiu Byrs, em particular a reparação ainda pendente de 180.000 casas destruídas, a limpeza de toneladas de escombros e o restabelecimento dos serviços básicos para as centenas de milhares de pessoas que ainda aguardam para ser realojadas. "Com ainda 800 mil pessoas nos acampamentos, devemos ser realistas sobre o tempo que será necessário para realojar todos", insistiu a porta-voz.
As agências humanitárias voltaram a defender nesta terça-feira o balanço da gestão de um desastre sem precedentes que aniquilou as estruturas de um Estado que perdeu no terremoto de 12 de janeiro de 2010, 30% de seus funcionários. A própria ONU lamentou a morte de 200 de seus funcionários no desmoronamento da casa onde se encontrava sua missão no Haiti.
Estas 48 horas de homenagens organizadas também acontecem em meio a uma crise política por causa da impugnação dos resultados do primeiro turno das eleições presidenciais de 28 de novembro. A Organização os Estados Americanos (OEA) entregará às autoridades locais um relatório no qual propõe que o candidato da situação, Jude Célestin, se retire do segundo turno.
O texto é um relatório de avaliação do primeiro turno e foi redigido por dez especialistas da OEA. O presidente Préval se negou até agora a comentar o documento. Segundo os resultados oficiais divulgados no início de dezembro, a ex-primeira-dama Mirlande Manigat ficou em primeiro lugar, com 31% dos votos, na frente de Jude Célestin (22%).
Michel Martelly, que impugnou os resultados, ficou em terceiro, com 21%, o que ocasionou violentos protestos de seus partidários. O segundo turno está previsto, a princípio, para o próximo domingo, mas o prazo parece impossível de ser cumprido.