Porto Príncipe - Pierre Noel tinha 14 anos quando seu país foi devastado pelo violento terremoto de 12 de janeiro de 2010. Hoje, passado um ano da tragédia, ele tem a cabeça cheia de sonhos, mesmo diante de um futuro incerto. O menino é ambicioso: ele se imagina empregado num banco, técnico de futebol ou jogando com o David Beckham no clube de Los Angeles.
"As pessoas vão me conhecer nos Estados Unidos", garante. Mas, depois de olhar os esgotos a céu aberto no campo de refugiados onde vive, parece voltar à realidade. "Não gosto desse lugar", diz, com ar triste. Antes do terremoto, apenas a metade dos quatro milhões de crianças haitianas iam à escola.
Mas o terremoto destruiu ou danificou as 4.000 escolas do país e fez um milhão de pessoas, entre elas Pierre Noel e sua família, viver em campos de refugiados. As crianças do Haiti ainda não se recuperaram da tragédia, constatou a Unicef. Pierre Noel tem sorte, apesar de tudo.
O campo em que vive não tem luz nem água corrente. Também já não conta o número de vizinho portadores de cólera. E a segurança proporcionada por poucos capacetes azuis não é das maiores. Mas, pelo menos, o menino vai à escola. "Ninguém consegue construir sua vida se não for à escola", afirma, senhor de si.
O Estado haitiano praticamente abandonou qualquer responsabilidade em termos de educação e confiou a tarefa ao setor privado, ao qual pertence 80% das escolas. As poucas escolas locais, recém-pintadas, possuem nomes alentadores: Arco-íris, Escola Paraíso e Escola Mista dos Filósofos.
Mas faltam professores, faltam meios, tudo é improvisado. Com salários que rondam os 50 dólares mensais, as condições miseráveis de vida dos professores são inaceitáveis, conforme denuncia o sindicalista Josue Merilien. "É um crime social", acrescenta.
Na falta de melhores alternativas, os pais se satisfazem com essas escolas, mesmo que sejam caras. "Alguns pais pagam, por exemplo, cem dólares por semestre, o que obriga a família a sacrificar uma refeição por dia. É um sacrifício enorme", observa Deborah Barry, da ONG Save the Children.
"Esta geração está pouco ou nada escolarizada e todo mundo luta freneticamente para encontrar uma solução. O mero fato de saber ler pode salvar vidas. Como, por exemplo, ler o rótulo de um vidro de medicamento", explica. As universidades também são pagas e têm dificuldades para matricular estudantes.
Uma delas contratou uma espécie de publicista, Diriel Jean, para fazer propaganda da instituição. Ele percorre as ruas da cidade com um megafone promovendo as virtudes da universidade. Uma vez pagos os gastos de inscrição - entre 100 a 150 dólares -, cada estudante deve economizar 50 dólares por mês para acompanhar os cursos.
"Não é muito caro, mas não temos muita gente", explica o jovem publicista. No campo de refugiados de Pierre Noel, um grupo de crianças descalças se diverte jogando um saco de lixo. A cena entristece Emmanuel Belleuve, um pai de 26 anos. "O que vai acontecer com minha filha de dez anos se ela não for à escola. O que acontece no Haiti é que o país não para de desabar".
Pierre Noel, por sua vez, não para de sonhar. "Quero trabalhar como aquelas pessoas que ajudam nos aviões, auxiliares de voo, aeromoços. Quero ver o mundo inteiro, a Ásia, a Itália e a França".