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Massacre incita novo debate sobre armas nos Estados Unidos

Brechas na legislação facilitam tragédias, como o tiroteio no Arizona. ONGs e analistas cobram rigor no comércio de armamentos e pesquisa sobre antecedentes de compradores

postado em 12/01/2011 09:29
Apenas quatro em cada 10 norte-americanos defendem uma legislação mais severa em relação à aquisição de armas nos Estados Unidos. Para especialistas, a regulamentação frouxa permitiu que Jared Lee Loughner, de 22 anos, comprasse uma pistola Glock 9mm e disparasse 31 vezes durante um evento em Tucson, no Arizona. O massacre de sábado passado deixou seis mortos e 13 feridos, entre eles a deputada democrata Gabrielle Gilfords. E levou organizações não governamentais a reforçarem uma campanha para prevenir novas tragédias. Contra elas, pesa a inclinação bélica do Oeste dos EUA ; uma região que historicamente mantém uma relação passional com as armas. Enquanto a congressista luta pela vida no hospital, a coalizão Mayors Against Illegal Guns (Prefeitos contra armas ilegais) apresentou um plano para manter os armamentos longe das mãos de criminosos e de portadores de distúrbios mentais.

;A tragédia do Arizona expôs, mais uma vez, brechas fatais em nosso sistema de fiscalização de antecedentes;, declarou Michael Bloomberg, prefeito de Nova York e codiretor da ONG. ;A lei sustenta que usuários de drogas não podem comprar armas. Mesmo rejeitado pelo Exército por uso de entorpecentes, Jared Loughner foi capaz de passar em uma checagem de antecedentes e de comprar uma arma. Deveria ser claro, para todos, que o sistema está quebrado e que é hora de nossos líderes em Washington se apressarem para consertá-lo;, acrescentou. Citada pelo New York Times, Hildy Saizow, presidente da ONG Arizonans for Gun Safety, desabafou: ;Aqui no Arizona, é muito difícil mudar a cultura. O presidente Barack Obama pretende viajar a Tucson hoje, onde participa de um culto em homenagem às vítimas. Aos poucos, a personalidade de Loughner começa a ser desenhada como obtusa e macabra. O jornal NY Daily News exibiu em seu site uma foto de um altar montado no jardim da casa do assassino. Sobre ele, estavam laranjas podres, a réplica de um crânio humano e velas.

Falhas

Por e-mail, a norte-americana Kristin Gross, cientista política da Duke University, alertou: ;Precisamos encontrar meios de evitar que pessoas incapacitadas mentalmente adquiram armas;. Segundo ela, as leis de privacidade médica dificultam a verificação do histórico clínico de suspeitos. A especialista acusa o Arizona de ter uma das leis mais frouxas do país. ;Ele não exige que a arma de fogo à venda seja registrada ou que o comprador tenha sido treinado para manuseá-la;, observa. ;Qualquer pessoa que adquirir uma arma em um comércio licenciado precisa se submeter a uma checagem de antecedentes;, acrescenta. A advogada Judy Clarke pretende alegar que Loughner sofre de distúrbios psicológicos, enquanto a promotoria deverá pedir a pena de morte para o assassino.

O alemão Christian Lammert, professor visitante de política norte-americana na Universidade Livre de Berlim, admite que a legislação liberal torna mais fácil que pessoas comprem armamentos. ;A longa tradição de violência política e de tiroteios mostra que os problemas caminham de mãos dadas com o direito liberal de se adquirir amas. Uma regulação mais forte poderia ter ajudado a evitar o massacre de Tucson;, comenta. Kristin também lembra o impacto do tema sobre a cultura dos EUA. ;As armas são um aspecto central da fundação de nosso país e da expansão rumo ao Oeste, no século 19;, diz.

Deputada melhora, mas corre risco

Gabrielle Gilfords, a deputada norte-americana baleada na cabeça, continua em estado crítico. No entanto, ela já é capaz de respirar por conta própria. De acordo com Michael Lemole, neurocirurgião-chefe do University Medical Center, a paciente consegue responder a comandos simples ; um sinal vital para sua recuperação. O médico também informou ter reduzido os sedativos administrados a Gabrielle e assegurou que ela foi mantida em aparelhos apenas por precaução. Os especialistas estão otimistas com o fato de o cérebro da congressista de 40 anos não apresentar aumento do inchaço.

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