Moscou - Pressões sobre o piloto, desejo de aterrissar a qualquer custo, apesar do nevoeiro intenso: a responsabilidade pelo acidente de avião do presidente polonês Lech Kaczynski, na Rússia em abril passado, recai exclusivamente no lado polonês, segundo a investigação divulgada nesta quarta-feira.
O Comitê Intergovernamental de Aviação (MAK), que trabalhou com os investigadores poloneses, anunciou suas conclusões durante uma coletiva de imprensa em Moscou, e confirmou que a tripulação quis aterrissar, apesar dos controladores aéreos russos considerar as condições meteorológicas muito ruins.
Tatiana Anodina, chefe do MAK, explicou que o avião tentou pousar apesar de "múltiplas informações sobre as condições meteorológicas, que não eram adequadas".
Mas destacou que a tripulação não desviou o avião para outro aeroporto devido "às pressões psicológicas" por parte de funcionários de alto escalão poloneses.
"A presença na cabine (do piloto) de altos funcionários - o chefe da Força Aérea e chefe do protocolo - assim como uma esperada reação negativa por parte do passageiro principal (Lech Kaczynski), constituíram uma pressão psicológica sobre a tripulação, influenciando sua decisão de proceder a uma aterrissagem em condições inadequadas", declarou Anodina.
"Foi detectado álcool - uma quantidade de 0,6 mg/l-- no sangue do chefe da Força Aérea", general Andrzej Blasik, acrescentou. Entretanto, nenhuma ordem direta de aterrissar por parte do presidente polonês foi gravada pelas caixas-pretas do avião, segundo o MAK.
A reconstituição do voo, cuja simulação foi mostrada nesta quarta-feira, indica que a tripulação ignorou as advertências da Rússia e do sistema de alerta automático do avião, que indicava "Pull up" ("Subam", em inglês), pouco antes da queda do avião. Anodina também denunciou a formação insuficiente dos pilotos: "As causas do acidente do avião Tu-154M (...) são devido a deficiências significativas na organização do voo e na preparação da tripulação", ressaltou.
Dez minutos após o anúncio feito pelo primeiro piloto Arkadiusz Protasiuk de que não era possível aterrissar devido às condições ruins, é possível ouvir o diretor do protocolo diplomático Mariusz Kazana dizer: "o presidente ainda não decidiu o que vamos fazer". Em Varsóvia, o irmão gêmeo do falecido presidente e chefe da oposição conservadora polonesa, Jaroslaw Kaczynski, qualificou nesta quarta-feira de "piada para a Polônia".
"Esse relatório é uma piada para a Polônia", declarou, em uma coletiva de imprensa. "Esta é a consequência por deixar a investigação nas mãos dos russos. O relatório responsabiliza os pilotos e a Polônia, de maneira unilateral e sem provas. Muitas perguntas ainda precisam ser respondidas", acrescentou.
O relatório final do acidente foi entregue nesta quarta-feira a Varsóvia, de acordo com o MAK. A Polônia já havia rejeitado, entretanto, na metade de dezembro, as primeiras conclusões. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, havia considerado que alguns pontos eram "indiscutivelmente inaceitáveis", referindo-se a "erros e omissões".
O Tupolev 154 de fabricação russa que transportava o presidente Lech Kaczynski, sua esposa Maria Kaczynska e outras altas autoridades polonesas caiu no dia 10 de abril enquanto tentava aterrissar, em meio a uma forte neblina, em Smolensk, no oeste da Rússia. Todos a bordo morreram. O presidente polonês participaria da cerimônia pelo 70; aniversário do massacre de 22 mil oficiais poloneses prisioneiros do Exército russo pela polícia secreta soviética durante a Segunda Guerra Mundial em Katyn, perto de Smolensk.
Este acidente levou a uma aproximação entre Moscou e Varsóvia, que mantêm relações difíceis. O presidente russo, Dimitri Medvedev, fez no início de dezembro a primeira visita de Estado de um presidente russo à Polónia em nove anos.