Agência France-Presse
postado em 12/01/2011 17:47
Beirute - O governo de união do Líbano entrou em colapso nesta quarta-feira com a renúncia dos ministros do movimento xiita Hezbolah e seus aliados, mergulhando o país em crise, vinculada à investigação sobre o assassinato do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, pai do atual chefe de governo. As demissões foram anunciadas no momento em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, recebia o primeiro-ministro libanês Saad Hariri na Casa Branca. Depois da reunião, Obama e Hariri comprometeram-se a trabalhar pela "estabilidade" do Líbano.
Washington atribuiu a renúncia dos ministros do Hezbollah e de seus aliados políticos ao "medo" sentido pelo movimento xiita. A secretária de Estado americana Hillary Clinton, de visita ao Golfo, entrou em contacto imediato com dirigentes franceses, sauditas, egípcios e de outros países para destacar a necessidade "de um consenso internacional para sustentar o Tribunal" Especial para o Líbano (TSL), segundo um assessor.
"O assunto reveste-se de uma certa urgência", ainda quando o Hezbollah não parece querer convocar manifestações de rua, acrescentou. "Esperamos que o presidente da República (Michel Suleiman) tome rapidamente as medidas necessárias para formar um novo gabinete", disse o ministro da Energia, Gebrane Bassil, ao lado dos ministros dimissionários.
O governo do Líbano, que conta com 30 ministros, é derrubado quando uma terça parte de seus ministros se afasta (neste caso, 11), segundo a Constituição libanesa. Depois da demissão dos 10 ministros do Hezbollah e aliados, um décimo-primeiro-ministro, Adnan Sayyed Hussein, ligado ao presidente Suleiman, apresentou renúncia.
Os dez ministros do Hezbollah e aliados queriam evitar a investigação do tribunal da ONU sobre o assassinato, em 2005, de Rafic Hariri. O Hezbollah, temendo que alguns de seus elementos sejam acusados pelo Tribunal Especial para o Líbano pelo assassinato, dera um prazo de "algumas horas" ao governo Saad Hariri para tomar uma decisão sobre esta "corte, que divide o país".
Este tribunal de justiça, que divulgará em breve a ata de acusação sobre o assassinato, vinha causando há meses um confronto duro entre Hariri, que defende a investigação, e o partido xiita, que acusa a instância de "estar a soldo de Israel e dos Estados Unidos", baseando-se em "depoimentos falsos".
"Com o afastamento, querem paralisar o Estado, e destruir o tribunal internacional (...). Acham que intensificando as pressões vão conseguir dobrar Saad Hariri, mas suas tentativas são destinadas ao fracasso", disse à AFP Mohamed Rahhal, ministro do Meio Ambiente, e ligado ao primeiro-ministro.
A situação atual recorda a de 2006, quando seis ministros do Hezbollah deixaram o governo de Fuad Siniora, próximo a Saad Hariri, num contexto de crise política e de divergências sobre a instalação de um tribunal internacional para julgar os assassinos de Rafic Hariri. Na época, a situação desencadeou em crise de dois anos, colocando o país à beira de uma nova guerra civil em maio de 2008, com enfrentamentos entre partidários de Hariri e do Hezbollah, que deixaram 100 mortos.