Phoenix- O presidente americano, Barack Obama, lidera um dia de luto nacional nesta quarta-feira, depois que a tragédia do tiroteio no Arizona deu origem a um debate polarizado sobre a retórica violenta que sacode a política americana. Obama dirigia-se para o estado do sudoeste americano para presidir uma cerimônia em memória dos seis mortos e 14 feridos na tentativa de assassinato da congressista democrata Gabrielle Giffords, que luta pela vida em um hospital de Tucson.
A visita presidencial ocorre depois que a família do suposto atirador, Jared Loughner, de 22 anos, disse se sentir "profundamente pesarosa" com o ataque de sábado, enquanto os cirurgiões davam uma previsão otimista sobre o estado de saúde de Giffords. Ocorre ao mesmo tempo em que a Câmara de Representantes aprova uma resolução condenando o ataque e homenageando a memória das vítimas, com o presidente da Casa, John Boehner, ressaltando a importância da solidariedade entre os congressistas como inspiração para sua colega ferida.
"Nossos corações estão partidos, mas nosso espírito não", disse Boehner à Câmara esta quarta-feira. "Estamos gratos, tão gratos que Gabby ainda esteja conosco", afirmou, deixando evidente que a Casa ficou abalada com o ataque inexplicável. "A Casa ainda precisa absorver completamente a magnitude desta tragédia", disse Boehner, segurando as lágrimas.
O líder da maioria da Câmara, Eric Cantor, chamou o tiroteio de "um ataque contra a própria essência da democracia e do governo representativo". No campo político, Obama enfrenta um momento muito arriscado, mas também uma oportunidade política ao presidir a cerimônia na Universidade do Arizona, em Tucson, em um momento em que ele tenta reavivar os vínculos com os eleitores americanos.
Milhões de espectadores em todo o país estarão ouvindo suas palavras de consolo, compaixão, esperança e talvez o apelo por um discurso nacional mais cívico. Sua tarefa será complicada pelas alegações dos mais liberais de que um clima de ódio criado por nomes conservadores, como a ex-candidata republicana à vice-presidência Sarah Palin pode ter sido o empurrão necessário para que Loughner puxasse o gatilho, expondo divisões malignas na política americana.
Nesta quarta-feira, Palin, que pode vir a se lançar candidata à Casa Branca em 2012, repudiou enfaticamente qualquer responsabilidade no tiroteio e acusou os críticos de "difamação sangrenta" por associarem sua inflamada retórica política à tentativa de assassinato de Giffords. "Atos de criminalidade monstruosa se baseiam em si próprios. Eles começam e terminam com os criminosos que os cometem", disse Palin em uma mensagem de vídeo.
Por seu papel simbólico de chefes de Estado e comandantes-em-chefe, os presidentes são periodicamente chamados a invocar unidade em momentos de crise, associando eventos chocantes a parábolas da História americana e da mitologia nacional. Alguns recorrem à poesia, como Ronald Reagan, depois da explosão do ônibus espacial Challenger, em 1986, ou à prosa carregada de resolução, como o discurso de George W. Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Tais discursos são uma forma de levar serenidade a uma situação de tragédia e usá-la como forma de tornar o país coeso e fazê-lo seguir adiante, explicou o professor de ciência política Jamie McKown. É provável que Obama evite apontar culpados, enquanto homenageia os mortos e aconselha os sobreviventes.
Uma fonte oficial da Casa Branca disse que o presidente começou a trabalhar em seu discurso na noite de segunda-feira e que "dedicará grande parte de seus comentários à memória das vítimas". Espera-se que 14 mil pessoas assistam à cerimônia em meio a um forte esquema de segurança. O presidente deve aparecer ao lado da primeira-dama, Michelle Obama, e do senador John McCain, seu adversário republicano nas eleições presidenciais de 2008.
Enquanto isso, no hospital de Tucson, os médicos davam uma previsão otimista sobre a evolução do quadro de Giffords, enquanto ela permanece na unidade de cuidados intensivos após ser submetida a uma cirurgia no cérebro. "Ela se encontra estável", disse Michael Lemole, o chefe da equipe de neurocirurgiões que operou Giffords, acrescentando que ela ainda responde a comandos simples, um indício de seus prospectos de recuperação.
"Estou muito animado com o fato de ela estar se saindo tão bem", afirmou. Peter Rhee, chefe de cirurgia traumática do University Medical Center, disse que os médicos diminuíram os sedativos administrados a Giffords, antes de declarar que "ela não vai morrer. Ela não tem a minha permissão para isto". Giffords levou um tiro na cabeça durante o ataque a um ato público, realizado no estacionamento de um supermercado em Tucson, no qual morreram seis pessoas, inclusive um juiz federal e uma menina de 9 anos.
De acordo com o jornal The New York Times, a polícia havia sido chamada à casa de Loughner mais de uma vez antes do tiroteio e citou um amigo do suspeito, segundo o qual o suposto assassino sabia manipular uma arma. "Ele é um niilista e ama provocar o caos e foi por isso que ele provavelmente praticou o massacre, além do que ele estava doente da cabeça", contou ao jornal Zane Gutierrez, de 21 anos.