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Sucessão: Marine Le Pen assume liderança da extrema-direita francesa

Agência France-Presse
postado em 16/01/2011 10:45
Tours - Marine Le Pen, 42 anos, assumiu neste domingo a liderança do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, sucedendo assim a seu pai Jean-Marie, líder histórico desta família política, e tornando-se a candidata natural para a presidencial de 2012.

Após 40 anos de reinado, o chefe da Frente Nacional (FN), com 82 anos, passou oficialmente a tocha à caçula do clã Le Pen em uma sucessão dinástica organizada no congresso do partido em Tours (centro-oeste da França).

Na tribuna, abraçou sua filha após ele mesmo ter anunciado os resultados: no término de uma eleição interna sem grandes surpresas e cujos resultados já haviam vazado na noite de sexta-feira, Marine Le Pen ganhou com 67,65% dos votos contra 32,35% de seu oponente Bruno Gollnsich, apoiado pelas correntes mais radicais.

A taxa de participação foi de 76,45% (de um total de 22.403 inscritos) nesta que foi a primeira eleição para presidente do FN desde a criação do partido em 1972. Jean-Marie Le Pen, por sua vez, foi eleito, por aclamação da sala, "presidente de honra" do movimento que ele ajudou a criar.

Desta forma, Marine Le Pen tornou-se a candidata natural do FN para as eleições presidenciais de 2012, onde ela espera repetir a performance de seu pai de 2002, quando ele conseguiu chegar ao segundo turno junto de Jacques Chirac e à frente do candidato socialista Lionel Jospin.

Com o sueco Jimmie Aekesson, o húngaro Gabor Vona e o neozelandês Geert Wilders, Marine Le Pen personifica assim o novo rosto da extrema-direita europeia.

Essa passagem de tocha ocorre em um contexto de renovação eleitoral para o FN: com uma derrota esmagadora nas legislativas de 2007 (4,2%), o partido com muito esforço obteve melhores resultados nas eleições europeias de 2009 e, em 2010, nas regionais (11,4%). As pesquisas de intenção de voto, hoje, lhe atribuem até 18% (pesquisa CSA, publicada na sexta-feira) para o primeiro turno da presidencial.

Ex-advogada, a alta e enérgica loura que surgiu na cena pública em 2002, vem sendo colocada na frente dos holofotes do cenário político dos últimos meses, batendo recordes de audiência na televisão com seu talento para a oratória que lembra muito o de seu pai.

Dentre suas linhas estratégicas, Marine Le Pen quer normalizar a imagem de seu partido para aumentar seu eleitorado, ganhar mais peso e "conquistar o poder".

Deputada europeia, ela toma para si as receitas que fizeram dos Le Pen um sucesso: "preferência nacional", reservando uma série de vantagens sociais aos franceses, rejeição à imigração, retorno da pena de morte e a denúncia da "casta política" ou dos "eurocratas" de Bruxelas.

Mesmo sendo uma "Le Pen", ela quer também moderar a imagem do partido e passar uma borracha nos deslizes antissemitas ou negacionistas de seu pai, que havia qualificado em 1987 as câmaras de gás como "pequeno detalhe da história da Segunda Guerra Mundial".

Mesmo querendo parecer uma "mulher moderna" e laica, Marine Le Pen é alvo de uma investigação judiciária por "incitação ao ódio racial" por ter recentemente comparado os muçulmanos orando nas ruas de alguns bairros à ocupação alemã na França durante a Segunda Guerra Mundial.

Vereadora de Hénin-Beaumont, zona industrial devastada no norte da França, duas vezes divorciada e mãe de três filhos, ela tem uma linguagem mais social que seu pai e questiona os "dogmas" da "globalização" e do "livre comércio".

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