Túnez - Violentos confrontos foram registrados neste domingo em Túnis entre as forças de segurança e elementos leais ao chefe de Estado deposto, Ben Ali, que resultaram na invasão militar do palácio presidencial de Cartago, no dia em que foi anunciado que o novo governo será composto na segunda-feira.
Disparos, primeiro esporádico e depois mais intensos, foram ouvidos durante horas na capital, entre franco-atiradores escondidos nos prédios e policiais e militares. Dois franco-atiradores foram mortos nesses confrontos. No meio da tarde, o exército tunisiano invadiu o palácio presidencial, no qual se encontram entrincheirados elementos da guarda presidencial de Ben Ali.
Um habitante da localidade informou que houve tiros nas proximidades do Palácio presidencial e que o exército estabeleceu um perímetro de segurança em torno do prédio. Outro habitante acrescentou ter visto pelo menos dois helicópteros sobrevoando o setor.
Segundo a televisão pública, a polícia tomou conta das instalações da Escola de Altos Estudos Comerciais (HEC), que fica próximo ao palácio, e pediram ajuda dos militares por estarem debaixo de fogo. Na confusão, quatro alemães a bordo de três taxis foram presos por portar armas, junto a outros estrangeiros cujas nacionalidades não foram informadas.
O ex-chefe da segurança do presidente tunisiano deposto, o general Ali Sériati, foi preso neste domingo após ter sido formalmente acusado de responsabilidade pelos abusos dos últimos dias contra a população. Um fonte oficial, que preferiu não ser identificada, informou à agência TAP ter ficado estabelecido que este homem-chave do antigo regime estava por trás das milícias responsáveis pelas desordens recentes na capital e outras cidades do país.
Várias testemunhas atribuíram os saques e atos violentos dos últimos dias, principalmente em Túnis e arredores, a membros das tropas de segurança ligadas a Ben Ali, que procuravam criar o caos. O ex-presidente, no entanto, não aguentando a pressão do povo, fugiu na sexta-feira para a Arábia Saudita. Paralelamente, a agência TAP reportou no início da tarde uma melhora da segurança com uma redução do toque de recolher em todo o país das 18h às 05h locais, contra 18h às 06h de anteriormente.
Já primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi realizou consultas com representantes de partidos políticos e da sociedade civil para começar o processo de transição após a queda do regime de Ben Ali. Dessa forma, a composição do novo governo tunisiano será anunciada na segunda-feira, conforme informou uma dirigente opositora, Maya Jribi, secretária-geral do Partido Democrático Progressista (PDP).
"Foi decidido de forma consensual separar os partidos pró-governamentais. O novo governo será integrado por representantes do movimento Ettajdid (Renascimento), do PDP, da Frente Democrática para o Trabalho e Liberdades (FDTL), assim como por personalidades independentes", acrescentou. Estas três organizações políticas faziam parte da oposição legalizada.
"As próximas eleições serão supervisionadas por um comitê independente e observadores internacionais para que sejam livres e transparentes", destacou Maya Jribi, precisando que os três partidos pediram uma anistia geral para todos os presos políticos.
Diante de uma possível solução para a crise, Washington afirmou estar "esperançado com as recentes palavras do primeiro-ministro (Mohamed) Ghannuchi e do presidente interino (Fued) Mebazaa, que indicaram que estavam dispostos a trabalhar com todos os tunisianos além da tendência política e com a sociedade civil para construir um governo verdadeiramente representativo", segundo um comunicado.