postado em 20/01/2011 08:00
O alerta de Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe, coincide com a onda de autoimolações em países do norte da África e com a Revolução dos Jasmins, que depôs o presidente Zine El Abidine Ben Ali. ;A alma árabe está quebrada pela pobreza, pelo desemprego e pela recessão generalizada. Os problemas políticos, muitos dos quais não foram reparados, têm levado o cidadão árabe a um estado sem precedentes de raiva e frustração;, declarou ele, durante uma cúpula econômica que reuniu 22 membros da organização no balneário de Sharm el-Sheikh, no sul do Mar Vermelho. Enquanto Moussa discursava, os tunisianos enfrentavam mais um dia de manifestações, dessa vez a favor da destituição de integrantes do antigo regime do atual governo de transição e o fim do partido de Ben Ali. Desde meados de dezembro, mais de 100 pessoas morreram. ;A revolução que ocorreu na Tunísia não está longe do tema dessa cúpula;, comentou Mussa. Ao fim do encontro, os líderes assinaram uma declaração final que não menciona a Revolução dos Jasmins. ;Os desafios enfrentados pela região no domínio do desenvolvimento não são menos importantes do que os desafios políticos;, afirmava o documento. Os dirigentes árabes se comprometeram com a criação de um fundo de US$ 2 bilhões, a fim de ajudar pequenas e médias empresas, e fomentar postos de trabalho. Em entrevista ao Correio, o cientista político kuweitiano Khalil Marrar considerou o discurso de Moussa como ;extraordinariamente sincero e preciso;. ;Outros países árabes, particularmente aqueles que fazem fronteira com a Tunísia e os do Oriente Médio, já compartilhavam de uma governança autoritária, da alta taxa de desemprego e de uma demografia jovem, mesmo antes da Revolta dos Jasmins;, explicou, por e-mail.
Marrar vê as manifestações em Túnis como transformadoras. ;Elas mostram que o status quo da governança perene é, na melhor das hipóteses, tênue;, comenta. Apesar de temer que protestos similares ocorram no Oriente Médio, o especialista classifica tais ações de ;expressão genuína da vontade popular;. ;Os resultados oscilarão entre a governança democrática, um regime militar, o caos completo e a revolução pós-revolucionária;, observa. No entanto, o kuweitiano adverte que qualquer efeito não serve aos interesses da região ou de potências ocidentais.
De acordo com Michele Dunne, especialista do instituto novaiorquino Carnegie Endowment for International Peace (Ceip), os países árabes enfrentam problemas comuns: o desemprego juvenil, a corrupção no governo, a falta de participação política e a perpetuação de líderes no poder. ;O que ocorreu na Tunísia tinha que ser um alerta para os líderes regionais, que precisam resolver essas questões;, explica a analista. Antes mesmo do início da cúpula da Liga Árabe, o chanceler tunisiano, Kamel Morjane, deixou Sharm el-Sheikh e embarcou de volta a Túnis. Por sua vez, o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, elogiou os tunisianos. ;A nação da Tunísia se levantou contra o ditador apoiado pelo Ocidente. (;) Os tunisianos querem as leis islâmicas e as regras islâmicas;, enfatizou.
Eu acho...
;Existe, definitivamente, uma ligação entre a revolta popular com a natureza autoritária dos regimes e o descontentamento com as condições econômicas terríveis e endêmicas nessa região. Durante os bons tempos, as populações dos países árabes faziam vistas grossas para os pecados de seus governos. A crise financeira global e suas consequências tornaram proibitivamente altos os custos de gerenciamento de um Estado;
Khalil M. Marrar, kuweitiano, cientista político da DePaul University, em Chicago (EUA)